Zweig: um ensaio actual

CRÓNICA
| agostinho sousa

Trata-se de um ensaio que apresenta e valoriza o combate de Castélio contra Calvino, no século XVI, numa luta desigual entre um David e um Golias, em prol da liberdade religiosa, pelo respeito das suas vertentes e variáveis católicas ou protestantes, mas sempre fundamentado por uma interpretação erudita e sem dogmas.
Calvino obterá, por “abnegação combatente”, o poder absoluto através da prepotência total e do terror, numa Genebra que dominará, a ferro e fogo, através de perseguições àqueles que vai considerando traidores à sua exclusiva leitura das sagradas escrituras, impondo novas e severas regras. Nestas, quase tudo é sonegado ao Homem, não sendo permitido o mínimo prazer que o possa alegrar.
Perante este poder absoluto e discriminatório, sem fundamentos que não sejam o autoritarismo indiscriminado de Calvino, com o objetivo de que todos tenham de pensar e agir da mesma maneira, Castélio – figura hoje menos conhecida – é aquele que luta enquanto afirma: «Toleramo-nos uns aos outros e não julguemos a fé de cada um!».
E como menciona o autor: “Pois – estas palavras de Castélio valem para todos os tempos – «aqueles que apenas querem ter um número tão grande quanto possível de adeptos precisam, por isso, de grande quantidade de pessoas, à semelhança de um louco que possui um grande recipiente com pouco vinho dentro e o enche de água para ter mais vinho – com isto não aumenta o seu vinho, antes estraga apenas o bom que havia dantes.”
Destaque-se a escrita fulgurante, detalhada e rica de Zweig, muito comum nas biografias que publicou, complementada neste caso por uma paixão acrescida visível na sua revolta constante, pelas comparações que vai dando, contra o autoritarismo nazi no ano em que o livro foi escrito – 1936.
É, sem dúvida, um livro de leitura atual sobre alguém que, corajosa e altruisticamente, combateu um autoritarismo (religioso), a que podemos comparar na luta do recentemente falecido Alexei Navalni (de forma estranha e suspeita) enquanto Homem-símbolo pela liberdade (na Rússia).
É tão atual que é importante recordar que “a História é maré baixa e maré alta, um eterno sobe e desce; nunca um direito foi conquistado
para todo o sempre, nem a liberdade está garantida contra a violência de formas diversas.”
Espinho, 01/4/2024
__________
Stefan Zweig
Castélio contra Calvino ou uma consciência contra a violência
Assírio & Alvim  16,65€

COMPRAR O LIVRO