VS.: “Pelo súbito desejo de editar”
Depois do falecimento da Fenda, Vasco Santos sentiu-se “viúvo” e foi “invadido pelo súbito desejo de editar”. O resultado é um projecto que se pretende inovador, coerente, diferente, resistente.
No seu catálogo estão, entre outros: Louis Althusser, Pier Paolo Pasolini, George Steiner, Alain Badiou, Stig Dagerman e Karl Kraus.
“Uma alternativa modesta à tagarelice do mundo”, afirma. Confirmado!
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P-Como e quando surgiu a ideia da VS?
R-A VS. surge um pouco como a Fenda: por um acaso objectivo. A Fenda faleceu em 2015 e passados uns anos, viúvo, fui invadido pelo súbito desejo de editar. (Aos 19 anos foi o mesmo desejo). Na verdade somos procurados por pensamentos.
P-Em termos de projecto editorial, como se define a editora?
R-A editora é mobile. É um scat, uma agricultura jazzística. Seguimos a Virginia Woolf: metemos uma mão no saco e tiramos de lá aquilo que vier. Que vier, obviamente, ajudar a pensar e à arte de viver. Contra a simplificação. Uma alternativa modesta, pois, à tagarelice do mundo.
P-No que toca ao seu catálogo, quais os principais critérios de escolha de autores e obras?
R-Bom, somos escolhidos por certos livros e autores. Somos platónicos. É uma biblioteca particular e curiosa. Também aceitamos sugestões; embora todas as escolhas sejam nossas. Os livros da VS. são a extensão do domínio da luta.
P-Como tem sido a reacção dos leitores?
R-A recepção dos leitores tem sido amorosa. Estamos-lhes muito gratos.
P-A editora tem inovado na abordagem da edição. Uma das propostas inovadoras é a da «Assinatura Perpétua»: como funciona?
R-Em 2018, quando iniciámos, o salário mínimo era de 580 €. Quem o quiser, por esse valor, receberá todos os livros (não esgotados) da VS. enquanto o seu editor vive e procriar. E é isto a «Assinatura Perpétua». É preciso muita confiança, dada a idade do mesmo. Mas tem sido um bom investimento…
P-Os autores de língua portuguesa estão, até agora, ausentes do vosso catálogo: a que se deve esta situação?
R-Não. O que não editamos é originais. Por manifesta incapacidade de fazer autores. Escritores de língua portuguesa, já editámos Carolina Maria de Jesus e Ernesto Sampaio. E iremos publicar Alface, Manuel da Silva Ramos, João Damasceno, por exemplo.
P – Para os próximos meses, quais são as principais apostas da editora?
R-As próximas apostas da VS. serão a publicação da trilogia Tuga, de Manuel da Silva Ramos e Alface (1200 páginas, com prefácio de Manuel Portela), O Língua, do surpreendente escritor brasileiro Eromar Bomfim, e dois livros do fenomenal escritor espanhol Ramón Gomez de la Serna: A Quinta de Palmyra e Interpretação do Tango. Na probabilidade de haver papel e cartolina.
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VS. Editor
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