Virgílio Castelo: “Imaginei que Deus (a existir) se poderia fartar de ser permanentemente invocado em vão”

1-O que representa, no contexto da sua obra, o romance “Haja Deus, se Deus quiser”?
R-O romance “Haja Deus, se Deus quiser” é o terceiro de um conjunto de temas que me interessam e preocupam desde que me entendo: Portugal (que tentei tratar em “O Último Navegador”) o Amor (abordado em “Despedida de Casado”) e a Morte (agora equacionada em “Haja Deus, se Deus Quiser”). São obviamente 3 temas que contêm dentro dezenas, ou centenas de outros, e uma infinitude de abordagens possíveis. Neste romance tentei falar de religião, filosofia, ciências do oculto, especulações metafísicas, poesia, profecia e tudo o mais que possa ajudar a, talvez, intuir o que ninguém sabe realmente: depois da morte, o quê?

2-Qual a ideia que esteve na sua origem?
R-A ideia que esteve na origem foi uma espécie de epifania que senti em 1978 quando estava a estudar teatro em Estrasburgo, e pensava muito sobre a facilidade com que as pessoas no mundo inteiro se servem da ideia de Deus para desistirem de enfrentar, por si mesmas, os problemas que a vida vai pondo. Imaginei que Deus (a existir) se poderia fartar de ser permanentemente invocado em vão, e poderia ausentar-se para parte incerta. Acrescentei ainda a ideia de o Céu necessitar obviamente de muita organização para gerir tanta expectativa, e nada melhor do que um escritório para o fazer. Depois não escrevi nada durante quarenta anos porque me faltava o protagonista. Até que, novamente por epifania, numa conferência sobre os lugares de Lisboa onde Fernando Pessoa viveu e trabalhou, me deparei com o único empregado de escritório do mundo, capaz de fazer frente a Deuses e às suas idiossincrasias com algumas ferramentas: o poeta dos heterónimos.

3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R-Neste momento estou a escrever uma coisa completamente diferente: contos sobre a noite de Lisboa, Porto, Paris, Nova Iorque e Rio de Janeiro, e a preparar um texto mais ambicioso que procurará fazer uma síntese dos meus temas de sempre: Portugal, O Amor e a Morte.
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Virgílio Castelo
Haja Deus, se Deus Quiser
Guerra e Paz   17€

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