Uma história de amor em Guernica

Seria apenas uma história de amor – ou várias, se tivermos em conta os casais das várias gerações – não fosse o cenário. E o cenário é de horror, de um horror tão intenso como só Picasso poderia mostrar nessa obra-prima que é Guernica – e até o artista é convocado, seguindo-se-lhe os passos (o raciocínio que comanda a mão) durante a realização desse enorme painel pensado e executado para o pavilhão espanhol na Exposição Internacional de Paris de 1937.
E é o ataque da aviação alemã a Guernica, essa terra perdida no mapa que por azar das suas gentes fica na confluência de caminhos, que condiciona e é a mola impulsionadora do romance histórico que lhe leva o nome.
“Guernica”, livro de estreia do jornalista norte-americano Dave Boling, é um impressionante fresco da guerra civil espanhola que foi também o ensaio geral para a I Guerra Mundial.
É a alma basca, simples mas orgulhosa da sua história e tradição, que Boling homenageia através de uma escrita vigorosa e uma trama bem construída. Os grandes e pequenos passos da loucura e infâmia que foi o ataque a Guernica estão bem presentes, e o autor denota um verdadeiro conhecimento da História e cultura basca, da perseguição sofrida antes mesmo do bombardeamento, enquanto Franco ia ganhando terreno e esmagando os resistentes.
Ao longo de quase meio milhar de páginas (que bem sabe uma história que não se esgota em meia dúzia de páginas!), Boling convoca o leitor a seguir as ingénuas estórias de amor de várias gerações de bascos, que se vão entrelaçando e apenas perdurariam na memória daquelas famílias não fosse a guerra tê-las interrompido abruptamente.
São famílias simples de agricultores, pescadores, marceneiros, até contrabandistas. Enfim, gentes que prezam valores como a honra, a amizade, a liberdade – e que Franco, com a ajuda dos nazis, quis riscar do mapa. Não conseguiu.

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Dave Boling
Guernica
Millbooks, 19,90€