“Uma crítica social e nasce num tempo da nossa História  no qual as regras mudaram”

1-Qual a ideia que esteve na origem deste vosso livro «A Revolução dos Mendigos»?
R-O livro A Revolução dos Mendigos é uma crítica social e nasce num tempo da nossa História  no qual as regras mudaram: o período de paz acabou e, agora, as grandes potências do mundo voltaram assumir uma postura de guerra. É uma nova circunstância geopolítica no contexto das nações do globo. O modo como escolhemos interpretar o livro tem sido o de caricaturar a realidade presente através de um trabalho diferente da literatura comum por via de uma produção anedótica.  O palco onde a ficção decorre é Paris, assim escolhido por representar a Revolução que trouxe para modernidade a Democracia, mas que agora se encontra em risco. Nós classificamos certas obras de arte ou literárias como Ultra-Realistas, quando procuram revelar realidades proibidas  de ser referidas no espaço público. Então, por exemplo, criámos a quadrilha dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse para representar as principais forças dominantes que governam o mundo. Todas as personagens deslocam-se dos seus tempos para um único espaço, como forma de representar a condição humana universal que coexiste na realidade actual do planeta.

2-A obra centra-se nos diálogos de Max Hoffmann e Diógenes o Novo: quem são estes personagens?
R-As personagens principais Max e Diógenes – ou Max Hoffmann e Diógenes o Novo – correspondem a modelos criados anteriormente a este livro A Revolução dos Mendigos. Serviram, por exemplo, para lançar no livro de poesia As Flores do Bem (o último de Raphael Yudin) um manifesto Ultra-Realista em nome de Diógenes o Novo intitulado «Imperadores, Reizinhos e Chefetes», um discurso de rua que tece duras críticas aos poderes que manietam o funcionamento da Democracia. No livro que agora se acaba de lançar, A Revolução dos Mendigos, a dupla de personagens encontra-se bem definida: Max representa um comportamento conservador mais à direita, enquanto Diógenes a esquerda liberal, mas ambos vivem .num mesmo mundo e passam pelas mesmas circunstâncias na aventura e experiência do real. Ambas são personagens que revelam conhecimento e sabedoria, sendo Max um cientista Nobel e Diógenes um jovem filósofo irreverente. Sendo que ambos – por bizarro que pareça – se complementam como as duas rodas de uma bicicleta. O objectivo é levar o leitor a confrontar-se com as dicotomias clássicas do espectro político e obrigá-lo à inquietação e ao desconforto reflexivo de pensar a transcendência destas mesmas polarizações. As outras personagens encarnam as grandes figuras do passado que modelam a civilização e que agora estão sendo olvidadas e substituídas pela automatização compulsiva.

3-Os diálogos são formas de pensar a realidade actual no mundo?
R-De uma forma geral, esforçámo-nos para transmitir a mensagem ao leitor de que existem sempre o dia de amanhã e como o meio ambiente nos dias de hoje já nos permite vislumbrar com antecedência o tipo de futuro que parte da sociedade está construindo para as diferentes populações. Os costumes tradicionais estão sendo substituídos sem necessidade. Este fenómeno social global é representado anedoticamente em mais outras quatro obras além de A Revolução dos Mendigos, totalizando uma colecção de cinco livros de crítica social ultra-realista. A moral da história procura enfatizar a necessidade de a sociedade valorizar a sua cultura local, evitando substitui-la por tecnologia e sofisticação (de sofisma) inúteis impostas pelo Mercado. Sendo este representado pela caricatura de um menino grande egoísta e arrogante que amanhece muito nervoso e sai nas ruas batendo em velhinhos e crianças.Assim, a caricatura da realidade proibida revela, no espectro dos dias de hoje, o dia de amanhã.
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Nicollas Croynder/Raphael Yudin
A Revolta dos Mendigos 
Book Factory