Um Homem de Aluguer

O livro é ousado e o título, além de dizer quase tudo, também ele é corajoso. Aqui encontramos uma mulher que resolve contratar um gigolô para saciar as suas necessidades de cariz sexual, mental, talvez sentimental.
A ideia vem da cabeça da escritora espanhola Neus Arqués, mas poderia vir de qualquer outra carola. Aliás, se tivermos em conta que, todos os dias, no nosso país, prostituem-se homens para enfartar velhas e desprezadas princesas ricas, esta obra torna-se bem real.
Através da Editora Quidnovi, que aposta forte em ficção estrangeira, surge-nos uma mulher, cujo desenrolar da história se centra em si própria. Chama-se Bel. Nome de três letras, número que poderia supor a perfeição. Mas não! Na vida, esta Bel, com cerca de 50 anitos de idade, está entregue a si própria e ao conselho de umas quantas amigas e conhecidas. Algumas que até pagam para dar atrevidos ensinamentos desregrados só para satisfazerem as suas coscuvilhices em seara alheia.
Bel encontrava-se tão revoltada que evitava pensar que as únicas mãos que passariam a tocar no seu corpo seriam as da sua esteticista. E, quando percebe que deixou de ser atraente para cativar as atenções de um homem, resolve seguir em frente, nesta sua caliente andança.
Em cena, entra Iván, um engenheiro civil cubano, imigrado em Barcelona (terra natal da escritora), que se prostitui enquanto espera por outras ocasiões laborais. Aliás, nesta obra surgem interessantes referências a Cuba, indicação de que a escritora talvez já lá tenha estado. Quem já foi a Havana, lembra-se, certamente, do bairro velho (referido na obra) e degradado da capital cubana que contrasta com uma Havana um pouco mais modernizada, onde os hotéis de cinco estrelas tocam as poucas nuvens existentes no céu. Estas abordagens espaciais dão um alegre ânimo ao desenrolar da acção, que só nos surge entrecortada pelas pausas e algumas hesitações da protagonista.
De ego destroçado, e para esquecer Pedro, o seu ex-namorado, rotulado pelas suas eufóricas crises de posse e senhorio, Bel resolve quiçá seguir os conselhos de Célia Cruz, a cubana que cantou e eternizou “La vida es un Carnaval”, e meter mãos (leia-se, corpo) à obra.
É com este Ivan, 20 anitos mais novo, que a escritora resolve arrastar o seu romance para uma faceta mais erótica da escrita. Consta que o cubano era perito em sexo oral (e não só), facto que levava Bel às nuvens, pois parece que tanto Pedro como o seu marido não gostavam da coisa. Eles eram cúmplices, e só assim conseguiam bailar ao mesmo compasso e atingir o êxtase com enorme facilidade. Mas o rapaz até era fixe, e nem sempre levava dinheiro pelo seu labor. “O contrato” acabava por ser uma comunhão total, e andavam por todo o lado juntos. Na cama e fora dela. Iam a congressos, jantares… conversavam sobre tudo.
É então que surgem algumas interrogações: “É possível o sexo sem amor? O que acontece quando uma mulher chega à idade em que se torna invisível para os homens? Vale a pena tentar desesperadamente manter-se “sexy”? Tenho a certeza que o romance explica bem a forma como as mulheres conseguem gerir a invisibilidade e o desejo. Recomendo vivamente a obra!
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Neus Arqués
Um Homem de Aluguer
Quidnovi, 14,94 €