Um general que prefere a paz
O general Loureiro dos Santos é seguramente um dos maiores especialistas portugueses em matéria de estratégia, segurança e defesa, a nível nacional, claro, mas também na perspectiva mundial. E está há anos empenhado na divulgação pública dos seus pontos de vista, das críticas e previsão do que está a acontecer, sobretudo desde a queda do muro de Berlim, do fim do mundo bipolar e do crescendo da globalização que, pelas alterações económicas implícitas, muda (ou pode mudar) a evolução no quadro militar planetário.
A oportunidade de expor a sua visão do que está a acontecer tem-lhe sido dada em diversos jornais – sobretudo no Público, mas também no Diário de Notícias, e em sucessivas conferências e comunicações, como é o caso de uma levada à Academia de Ciências, de que é membro, em 2008. Depois, por norma, esses textos e outros originais são coligidos em livro. E é o que acontece agora.
Os leigos e mesmo os iniciados não deixarão de ter matéria de aprendizagem, mas também de reflexão. O poder de análise, pela aprendizagem teórica e prática do general, e a longa experiência e trabalho de análise, conferem-lhe a dimensão pedagógica e reflexiva, concorde-se ou não, e talvez por isto mesmo, com as suas conclusões. De um modo geral, parece que o militar faz uma aproximação facilmente coincidente com a percepção comum.
Por esta razão, a proposta contida desde logo no título, abre-se ao debate quotidiano sobre as guerras, os seus malefícios e a possibilidade de agravamento e até de um conflito generalizado. A leitura de uma crónica sobre se a NATO chega para vencer os talibã é um dos exemplos da abertura a outras soluções que não a militar para conflitos de tão grande monta e consequências.
Mas também a realidade nacional perpassa nestas páginas, como a situação dos militares na (con)sequência de várias decisões tomadas pelo anterior governo de José Sócrates. O lado civilista do general transparece aqui com a tónica nos “sinais que revelam profunda inquietação dos cidadãos em uniforme de uma democracia para cuja fundação foram absolutamente determinantes”.
Vem este balanço a propósito do “modo como têm sido descurados os direitos que o Estado lhes (aos militares) outorga formalmente como compensação das obrigações que lhes exige, mas lhes recusa de facto”. Pode parecer uma postura corporativa, mas a verdade é que o ângulo de abordagem tem andado por aí.
Este livro, em que se insere um ensaio de geopolítica e relações internacionais, sob o título O coração da Eurásia contra o resto do mundo, alberga também um olhar de preocupação perante outros sinais políticos, tanto internos como determinados em Bruxelas. Exemplos, entre outros: o Tratado de Lisboa que, diz o general, mais favorece os interesses espanhóis do que os nossos, falta de armas e equipamentos adequados nas Forças Armadas, ou, mesmo, o traçado do TGV. Sim, o comboio de alta velocidade, e há alguma razão nas críticas.
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General Loureiro dos Santos
As guerras que aí estão e as que nos esperam se os políticos não mudarem
(volume VI da série Reflexões sobre Estratégia)
Publicações Europa-América, 21,50€
A oportunidade de expor a sua visão do que está a acontecer tem-lhe sido dada em diversos jornais – sobretudo no Público, mas também no Diário de Notícias, e em sucessivas conferências e comunicações, como é o caso de uma levada à Academia de Ciências, de que é membro, em 2008. Depois, por norma, esses textos e outros originais são coligidos em livro. E é o que acontece agora.
Os leigos e mesmo os iniciados não deixarão de ter matéria de aprendizagem, mas também de reflexão. O poder de análise, pela aprendizagem teórica e prática do general, e a longa experiência e trabalho de análise, conferem-lhe a dimensão pedagógica e reflexiva, concorde-se ou não, e talvez por isto mesmo, com as suas conclusões. De um modo geral, parece que o militar faz uma aproximação facilmente coincidente com a percepção comum.
Por esta razão, a proposta contida desde logo no título, abre-se ao debate quotidiano sobre as guerras, os seus malefícios e a possibilidade de agravamento e até de um conflito generalizado. A leitura de uma crónica sobre se a NATO chega para vencer os talibã é um dos exemplos da abertura a outras soluções que não a militar para conflitos de tão grande monta e consequências.
Mas também a realidade nacional perpassa nestas páginas, como a situação dos militares na (con)sequência de várias decisões tomadas pelo anterior governo de José Sócrates. O lado civilista do general transparece aqui com a tónica nos “sinais que revelam profunda inquietação dos cidadãos em uniforme de uma democracia para cuja fundação foram absolutamente determinantes”.
Vem este balanço a propósito do “modo como têm sido descurados os direitos que o Estado lhes (aos militares) outorga formalmente como compensação das obrigações que lhes exige, mas lhes recusa de facto”. Pode parecer uma postura corporativa, mas a verdade é que o ângulo de abordagem tem andado por aí.
Este livro, em que se insere um ensaio de geopolítica e relações internacionais, sob o título O coração da Eurásia contra o resto do mundo, alberga também um olhar de preocupação perante outros sinais políticos, tanto internos como determinados em Bruxelas. Exemplos, entre outros: o Tratado de Lisboa que, diz o general, mais favorece os interesses espanhóis do que os nossos, falta de armas e equipamentos adequados nas Forças Armadas, ou, mesmo, o traçado do TGV. Sim, o comboio de alta velocidade, e há alguma razão nas críticas.
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General Loureiro dos Santos
As guerras que aí estão e as que nos esperam se os políticos não mudarem
(volume VI da série Reflexões sobre Estratégia)
Publicações Europa-América, 21,50€