Tristia: O exílio emocional de António Cabrita

Ao ser banido de Roma, o célebre poeta Ovídio redigiu um conjunto de cartas, lamentando a sua exclusão da sociedade romana aos amigos e familiares. O conjunto destes escritos é denominado Tristia que significa “lamentação” e serviu de inspiração à obra homónima de António Cabrita.
O poeta e dramaturgo português vai embarcar para Moçambique numa viagem que se avizinha longa e dolorosa, trazendo à memórias antigos amores, receios e inseguranças que turvam a mente de António Cabrita. Logo, pode encarar-se esta odisseia a Moçambique como um exílio do qual o autor se lamenta em poemas.
O sujeito lírico destes poemas aborda tanto episódios e personagens das obras de Homero como momentos mundanos das suas experiências pessoais. Neste sentido, observa-se uma subversão da estética clássica e uma tentativa de ironizar a erudição livresca de alguns poetas contemporâneos.
A linguagem e estilo do autor são, sem dúvida, originais e variados, rejeitando estereótipos de métrica e rima que condicionam a produção poética. O verso livre, o vocabulário elegante e rico que denota uma educação clássica e uma apreciação pela cultura africana que são exemplos da tentativa de coordenar a sua faceta erudita com o seu lado boémio. Deste modo, os poemas são claros, honestos, inesperados e criativos.
Esta é uma obra que pressupõe uma leitura atenta e crítica e algum conhecimento de peças basilares da literatura clássica e helenística. Assim, recomenda-se esta leitura aos amantes da mitologia greco-romana, da poesia nacional em estado puro e de aventuras pautadas pela melancolia. Sugere-se ainda a leitura ao ar livre na natureza como modo de imersão na viagem física e emocional de António Cabrita.
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António Cabrita
Tristia
Porto Editora  19,90€

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