Thomas Bogg | O Título

1- De que trata este seu livro “O Título”?
R- Vejo “O Título” como uma constelação de pensamentos,
ideias e interpelações de escrita. É uma autêntica experimentação desenhada num
estilo que intenciona confundir mas que, nesta confusão, quer buscar algo de
valorizável que muitas vezes vem dissuadido da discussão habitual por demorar
tempo a ser sintetizado e percebido. Com este livro queria também instigar uma
nova conversa a nível geracional. O subtítulo “Uma transmodernização das
coisas” é ambos uma brincadeira e um conceito que empolga o livro em si. A
transmodernização é substância de uma ficção ao mesmo tempo que vai ser a
substancialização de uma nova ficção necessária à mudança. Uma nova história,
sobre o mundo e os valores que estimamos, que nos conduza do ideal ao desejo e
através deste compreendermos um motivo de vida que seja explicitamente nosso,
que nos dê direção e afirmação numa altura em que este sentido de existência
está em falta. Para estes fins, recorro a paradoxos, afirmo a importância do
indivíduo, problematizo definições, procuro reescrever visões do mundo e passo
períodos de tempo significativos a analisar conceitos como o futuro, a
relatividade das coisas e, enfim, o significado da significação.
2- De forma resumida, qual a principal ideia que espera
conseguir transmitir aos seus leitores?
R- Acima de tudo, quero que o leitor se sinta apoderado com
a leitura, que consiga retirar dela a perpétua importância da individualidade
que a pessoa envolvida na leitura tem. Quero alertar para o facto de que esta
relação, de leitor-texto, está tanto dependente de uma experiência de receber
com sucesso algo do texto para o interior da consciência com que a leitura vai
sendo realizada, como vai depender da significação interiorizada ter sido uma
significação ao mesmo tempo possível, quase exterior ao texto, que não seja
propriamente o texto, e que expressa mais que uma objetividade textual,
expressando a relação de um indivíduo numa circunstância propriamente pessoal,
que vai interferir na própria significação de qualquer texto. O leitor como um
escritor, também. Tento trazer esta perceção à realidade através do estilo em
que o livro está escrito, e também através de uma elaboração teórica da ideia
em si própria ao longo do desenvolvimento da obra.
3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R- Neste momento estou a retratar uma obra de língua inglesa
que escrevi em 2014. Chama-se “The Draft” (O Rascunho). Foi nessa altura que
comecei a desenvolver as ideias que apresento em “O Título” e que, agora, vou
continuar a pensar e repensar nos trabalhos que seguirem. Penso que estou na
génese daquilo que deverei por último assinalar no meu trabalho “transmoderno”.
O Título é um primeiro passo nessa direção e espero provocar muitas leituras e
desenvolver muitas relações intelectuais ao longo do caminho.
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Thomas Bogg
O Título
Chiado Editora, 15€