Teolinda Gersão | Cadernos II: As Águas Livres

1- O que representa, no contexto da sua obra o livro
“Cadernos II: As Águas Livres”?
R- O primeiro volume dos Cadernos surgiu em 1984 e chama-se
Os Guarda-Chuvas Cintilantes. Este é o segundo volume dos Cadernos, e insere-se
na mesma linha, embora com diferenças. São livros que desafiam os géneros
literários, porque dificilmente se integram em qualquer deles. Eu diria que são
Diários, mas heterodoxos, porque também escapam à categoria dos Diários, tal
como habitualmente os entendemos.
2- Qual a ideia que esteve na origem deste livro?
Subjacente a estes Cadernos (este não é o último, haverá
outros, para os quais fui reunindo uma enorme quantidade de páginas, ao longo
dos anos), está o desejo de captar, ou de algum modo de “fixar” o tempo, o
instante que corre, o mundo interior e exterior – a vida. A minha, mas também a
dos outros, da sociedade e do mundo. São livros reflexivos (também
auto-reflexivos), mas a um nível muito profundo, em que nunca há (apenas) um
“eu” mas uma voz que se desdobra e se confunde com a de outros, se deixa
submergir por outras vozes e outras
vidas. São livros imensamente “plurais” (“plurais como o universo”, como diria
talvez Pessoa.)
3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R- Estou a escrever um novo romance. Muito diferente de A
Cidade de Ulisses
, porque cada um dos meus livro é diferente. Não me daria
nenhum gozo ter um “formato” a que voltasse sempre, mesmo que isso me
garantisse uma enorme adesão de leitores, que provavelmente se sentiriam
familiares e confortáveis num horizonte de expectativa com que já contavam. Talvez
isso fosse muito útil em termos de marketing editorial, mas não é assim que
funciono. Gosto do prazer de inventar sempre de novo, como se cada livro fosse
o primeiro. Sei que isso é ao mesmo tempo um risco, mas também gosto de arriscar, ou não posso impedir-me de o
fazer, não sei ser de outro modo.
Só posso garantir que escrevo cada livro o melhor que sei e
posso. É sempre o livro (e não eu) que decide, a partir de dentro, a forma como
exige ser contado.
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Teolinda Gersão
Cadernos II: As Águas Livres
Sextante, 15,50€