Tatiana Faia: “Acordar num país e adormecer noutro”
Tatiana Faia acaba de lançar o seu sexto livro de poemas: Recurso e Pobreza [Ler Entrevista] depois de Um Quarto em Atenas e Adriano. Também escreveu ficção: um livro de contos, São Luís dos Portugueses em Chamas.
Além disso, é uma das editoras da revista Enfermaria 6. Doutorou-se em literatura grega antiga e trabalha como tradutora. Vive em Inglaterra. [Fotografia: Dirk Skiba]
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O que é para si a felicidade absoluta?
Manhãs livres.
Qual considera ser o seu maior feito?
Certas pessoas, lugares e algumas coisas a que a minha vida se ligou.
Qual a sua maior extravagância?
Acordar num país e adormecer noutro.
Que palavra ou frase mais utiliza?
No entanto; na verdade; que.
Qual o traço principal do seu carácter?
Dois, infelizmente: ansiedade e obsessão.
O seu pior defeito?
A obsessão (alimenta a ansiedade).
Qual a sua maior mágoa?
Seria simplificar a minha dor, trivializando-a, responder a isso num questionário público.
Qual o seu maior sonho?
Um futuro cheio de liberdade e esperança.
Qual o dia mais feliz da sua vida?
Tenho tido muitos dias muito felizes. Definitivamente mais do que esperava e talvez mais do que mereço. Seria avarento perante a generosidade extravagante da vida ter a pretensão de nomear um.
Qual a sua máxima preferida?
In the end you can’t save your soul and life by thought. But if you think, the least of the consolation prizes is the world. (Saul Bellow, The Adventures of Augie March)
Onde (e como) gostaria de viver?
Em Atenas, num dia de mercado em Kallidromiou.
Qual a sua cor preferida?
Penso que não tenho uma. O azul de Giotto na Capella delli Scrovegni. Certos vermelhos de Rothko.
Qual a sua flor preferida?
Alfazema.
O animal que mais simpatia lhe merece?
O rato, como cantado por Cesariny em “A um rato morto encontrado num parque.”
Que compositores prefere?
Bach, o Shostakovich do quarto andamento do Quarto Quarteto para Cordas, os compositores que trabalharam em Kind of Blue de Miles Davis, Couperin; o compositor da Odisseia, poeta cheio de imaginação e elegantemente tosco às vezes.
Pintores de eleição?
Muito desordenadamente: Cy Twombly, Caravaggio, Giotto, Bronzino, Vermeer, Van Gogh, Filippo Lippi (o pai), alguns dos pintores de frescos de Pompeia, o anónimo pintor do Túmulo do Mergulhador em Paestum, Basquiat, Paula Rego, Rothko; dois pintores de vasos gregos, Antífon e o misterioso Amásis; Ghika, Tsarouchis, Kontoglou, um pintor menor chamado John Craxton, Gentileschi (a filha). Esta lista fica muito incompleta.
Quais são os seus escritores favoritos?
De vez em quando os que me fazem mal porque me fazem bem e, também, Natalia Ginzburg e Agustina Bessa-Luís.
Quais os poetas da sua eleição?
Homero, Safo, Platão (sic), Eurípides, Kavafis, Seferis, Montale, Pasolini, Ruy Belo…
O que mais aprecia nos seus amigos?
A sua beleza.
Quais são os seus heróis?
Há uma personagem de um poema de Sophia que surge a trabalhar na reparação de uma estrada entre Atenas e Patras, por ela comparado a um dos deuses condenados nos frisos do Áltar de Pérgamo. De momento, é esse.
Quais são os seus heróis predilectos na ficção?
Hécuba, Antígona, Medeia, Clitemnestra, Electra, Deméter, Perséfone e Penélope.
Qual a sua personagem histórica favorita?
Fidípides, que, reza a tradição, foi o soldado que correu a distância entre Maratona e Atenas em 490 a.C. para dizer aos atenienses que o seu exército tinha derrotado o dos Persas, pondo fim à hipótese de a cidade ser atacada pelo que restava da força invasora, e morreu no fim. Na mesma tradição, Salgueiro Maia.
E qual é a sua personagem favorita na vida real?
O meu amigo muito amado Pedro Braga Falcão.
Que qualidade(s) mais aprecia num homem?
A gentileza.
E numa mulher?
Uma livre e imprevisível distracção.
Que dom da natureza gostaria de possuir?
O tipo de presença de espírito que tivesse como consequência uma caligrafia muito harmoniosa.
O que é para si o cúmulo da miséria?
A tristeza ressentida, envenenada.
Quais as falhas para que tem maior indulgência?
As que advêm de alguma espécie de vulnerabilidade.
Qual é para si a maior virtude?
A disposição de desejar entender.
Como gostaria de morrer?
Sobrevivida pelas pessoas que mais amo na felicidade de elas de vez em quando se recordarem de mim com alegria e hilaridade dionisíacas.
Se pudesse escolher como regressar, quem gostaria de ser?
A minha imensa amiga Clara Crepaldi.
Qual é o seu lema de vida?
Ama como a estrada começa ou Afinal o que importa é não ter medo. Um dos dois.
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