Stephen King como numa banda sonora

CRÓNICA
| Rui Miguel Rocha

King regressa com uma espécie de Benjamin Button, trocando a idade pelo peso. Um homem na conhecida cidade kinguiana de Castlerock, começa, de um momento para a outro a perder peso. Mantém no entanto o seu aspecto físico um pouco balofo, o que lhe permite levar as coisas até ao fim passando quase despercebido. Mas não passa, muito devido à amizade que tudo gosta de ver. É difícil perceber o objectivo final de Stephen King, acho que mesmo ele não o sabe, mas entendem-se bem os intermédios: como ser estranho numa cidade pequena, como lutar contra a discriminação, como aceitar uma suposta doença que nunca existiu com optimismo e esperança e até com uma espécie de alegria obstinada.
Fitzgerald escreveu Button contra a sua natureza, penso que o terá feito para demonstrar que podia fazer o que lhe desse na gana. Acho que foi também um pouco isso o que se passou com King, embora o insólito não seja um território estranho para o autor, muito pelo contrário. O estranho, a magia do mistério e do inexplicável, mas sempre com alguma ordem interna para nos fazer crer que quase tudo é possível, é onde o criador de Misery se sente em casa. E ainda bem.
Durante a leitura lembrei-me muitas vezes da canção dos U2 “Elevation”:

“Love, lift me out of these blues
Won’t you tell me something true
I believe in you”

Quase como uma banda sonora.
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Stephen King
Elevação
Editora 11/17   8€

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