Sobre Humanos e Outros Animais

“Se olharmos bem ao espelho vemos um animal”, diz John Gray, sem palpitar. Socorrendo-se da biologia e da zoologia, o autor inglês recorda o nosso passado e presente animalescos e grosseiros. Sem medos, lembra que Fernando Pessoa e Charles Darwin chegaram a defender que “nós somos os mais sofisticados predadores à face da Terra”. Esta tese anti-humana já chocou, certamente, muitos incautos leitores. A mim que a li, sinceramente, não chocou, pois algumas das suas passagens já foram vivificadas centenas de vezes por outros pensadores que asseguram que a vida na Terra tem os dias contados.
Gray tenta responder às perguntas: que fazemos e o que viemos cá fazer? Seremos mesmo humanos? Este professor catedrático passou, a pente fino, os detalhes mais trágicos da história do Homem enquanto Homem. Do holocausto à guerra santa, passando pelos atentados ambientais, o antropocentrismo ou o fundamentalismo. Segundo este pensador, este livro serve para demonstrar que “o lugar central não é ocupado pelos seres humanos”.
Muito bem fragmentado, e de prosa fluida, coerente e bem pensada, John Gray recorda que, neste momento, “a população mundial cifra-se nos 6 mil milhões de habitantes, e que a mesma crescerá pelo menos até 1.200 milhões de habitantes até 2050.” O autor termina a ideia lembrando que, por este andar, a população humana só será comportada por meio da devastação da Terra.
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John Gray
Sobre Humanos e Outros Animais
Lua de Papel, 15 €