Sebastião Belfort Cerqueira: Música Normal


Uma leitura de Inês Soares
Cada poema corresponde a uma canção ou banda de rock da década de 1980. Tal como as músicas sobre as quais discorrem, estas estrofes são cruas e honestas, propiciando uma grande intimidade entre o sujeito lírico e quem o lê.
Esta obra convida o leitor a refletir sobre o papel da música na sua vida e sobre como esta pode influenciar estados de consciência e promover a tomada de decisões difíceis.
3 perguntas a…

1-O que representa, no contexto da sua obra, este «Música Normal»? R-Só pensar que posso ter uma “obra” já é engraçado. Estou habituado a escrever sobre outros autores, mas ainda não me habituei a ler esse tipo de coisas sobre mim. O que é normal, porque quase ninguém escreveu esse tipo de coisas sobre mim. Tentando responder à pergunta: tenho algumas ideias sobre os meus outros livros, mas não sei se terei uma visão de conjunto que me permita dizer o que este representa. Posso dizer que tem mais poemas sobre fazer poemas, ou sobre arte em geral, do que os últimos, mas também tem poemas sobre noites de chuva e relações entre humanos e aquelas coisas do costume. Também posso dizer que talvez seja o livro que escrevi que anda mais à volta de uma mesma ideia ou questão, neste caso, a da “normalidade”. É claro que é uma ideia tão geral que me permite escrever sobre tudo e mais alguma coisa, que é como eu gosto. Mas talvez possa aproveitar a próxima pergunta para tentar explicar-me um bocadinho melhor.

2-Qual a ideia que esteve na origem do livro?
R-Ainda bem que perguntam. Uma coisa que faço muito é escrever poemas a partir de música que oiço. (Tem a grande vantagem de ajudar a começar e de reduzir o número de vezes que pego no caderno e acabo sem ter escrito nada, que são as menos divertidas.) Nos três livros e meio que publiquei antes deste (um foi a meias com o Ramiro S. Osório), tenho poemas que partiram de coisas do Blind Willie Johnson, dos Pink Floyd, Kyuss, A Tribe Called Quest, do Hank Williams, Alceu Valença, Rory Gallagher, entre não sei quantos outros. Nalguns casos, isso é mais óbvio no poema, noutros menos. A ideia para o Música Normal foi só escrever poemas assim e dar a todos (ou praticamente todos) os nomes dos artistas que serviram de ponto de partida. Mesmo que na maioria dos casos os poemas sejam sobre coisas que se entendem perfeitamente sem conhecer os ditos artistas. Os títulos dos poemas chamam a atenção para certas intertextualidades (desculpem, estive a escrever um projecto para a faculdade e às vezes estas coisas pegam-se) que uns leitores identificarão imediatamente, outros, com alguma curiosidade e ligação à internet, passarão a identificar e ainda outros ignorarão por completo. Sem dúvida a maioria, até porque só foram feitos 100 livros e parece que há muitos leitores. Se é um deles e se me está a ouvir, vá comprar o meu livro.
3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R-O futuro, este ano, chegou mais cedo do que é meu costume. Tenho um livro que já não estou a escrever e que, se tudo correr bem, se nada falhar, etc., vai sair ainda em 2021 nas edições Sempre-em-Pé. Chama-se Está Um Dia Lindo e é muito bom. Sou eu que o digo. Sem citar fontes, sem peer-review e sem fact checking. O que estou a escrever neste momento (quer dizer, não é mesmo neste momento) é uma história para crianças em que já ando a pensar há alguns anos e que também vai ser muito boa.
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Sebastião Belfort Cerqueira
Música Normal
Companhia das Ilhas  12€