Sara Duarte Brandão: “Para dizer a verdade, acho que essa surpresa ainda não me abandonou”
1-O que representa, no contexto da sua obra, o romance “Quem tem medo dos santos da casa”?
R-“Quem Tem Medo dos Santos da Casa” é o meu primeiro trabalho longo, o que para mim é o mais surpreendente. Numa obra repleta de poemas e contos surge, de repente, um trabalho mais extenso que para mim representa essa possibilidade muito literal de crescer em tamanho. Isto não quer dizer que os outros livros tenham menos valor, muito pelo contrário, quer apenas dizer que existia em mim uma vontade desconhecida de me debruçar mais tempo sobre a mesma história.
2-O que sentiu ao receber o Prémio Literário Cidade de Almada por este romance?
R-Senti surpresa. É claro que quando a poeira assentou senti felicidade e orgulho, mas um orgulho até mais direcionado às personagens. Este romance esteve um tempo fechado na gaveta e o Prémio Literário Cidade de Almada foi uma janela que se abriu, como se eu própria sentisse a história e as suas pessoas num lugar sem luz que teve a sorte de ver o sol, e logo um sol que lhes foi dado por pessoas que tanto admiro. Para dizer a verdade, acho que essa surpresa ainda não me abandonou.
3-Qual a ideia que esteve na origem deste livro?
R-Este livro inspira-se num acontecimento real que envolve a Igreja Paroquial de São Pedro da Afurada, as esculturas do santeiro Altino Maia e a própria comunidade deste lugar. No entanto, a ideia deste romance partiu desde sempre de um sonho de escrever sobre as injustiças sentidas e vividas pelas mulheres, com o objetivo de nos fazer (re)pensar a atualidade, num confronto claro com o passado e o futuro. A personagem de Maria Teresa, aliada ao episódio dos santos, foi a forma que encontrei para aproximar duas realidades que me parecem forçosamente separadas, ainda que semelhantes: a da santidade e a do ser-se humano.
4-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R-Tenho um livro de poesia que, quem sabe, não estará assim tão longe de ver a luz do dia. Mas a isso soma-se a escrita de uma Tese, portanto creio que o futuro terá de encontrar o seu equilíbrio entre o académico e o criativo, algo que só terá lugar quando me sentir mais distante do “Quem Tem Medo dos Santos da Casa”.
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Sara Duarte Brandão
Quem tem medo dos santos da casa
Publicações D. Quixote 17,70€