Sanne Blauw: O Poder dos Números


1-Lendo seu livro, o que é mais perturbador é confirmar o facto de que não temos numeracia suficiente. Nem nós nem, por exemplo, muitos jornalistas. Por será que isso acontece, especialmente no momento em que os números têm um grande impacto nas decisões que afectam nossas vidas e nosso futuro?
R-Eu acho que a numeracia é algo que devemos começar a aprender cedo. Em vez de exercícios abstractos de matemática, por que não pegar um jornal na sala de aula e aprender sobre os números que vê? Mas acho que é um erro pensar que mais conhecimento é a única solução aqui. Como seres humanos, gostamos de certeza e de mensagens fortes. Não gostamos da nuance que na realidade envolve muitos números. As notícias amplificam isso, usando títulos fortes e ignorando as advertências sobre números. Então, acho que um passo importante, além de saber como avaliar um número, é abraçar a incerteza.

2-Um dos seus conceitos importantes (autodefesa) que devemos adotar para nos proteger da manipulação e dos erros: como podemos fazer isso?
R-Há várias perguntas que você pode fazer quando encontra um número. Se vir uma pesquisa, verifique se era representativa. Se ler notícias sobre pesquisa em nutrição, pergunte-se se não misturaram correlação e causalidade. Mas também há perguntas que pouco têm a ver com estatísticas. O que eu sinto? Não somos sistemas neutros de processamento de informações. Algumas notícias assustam-nos, outras notícias fazem-nos felizes. Estamos todos muito ansiosos para acreditar num facto, enquanto preferimos descartar outro imediatamente. É bom ter preconceitos, isso é humano, mas esteja ciente deles. E talvez a pergunta mais importante: quem é o mensageiro? Os números costumam ser usados ​​para nos convencer: votar em certas pessoas, comprar um determinado produto, apoiar uma posição. Portanto, pergunte a si próprio qual é a motivação de alguém, pois isso pode afectar o uso do número.

3-Poder usar números dá-nos autoridade ou argumentos numa discussão entre amigos ou num debate parlamentar. Como podemos mudar a situação e começar a usar os números correctamente: em casa, na política, na economia?
R-Acho que precisamos entender que nem os números nem sua interpretação são objetivos. Existem escolhas subjetivas sobre como medir, como recolher, como analisar e como apresentar os números. Portanto, um número não é “a verdade”, mas pode (na melhor das hipóteses) ajudar-nos a entender a realidade. Mas para fazer isso, você precisa mais do que apenas números. História, psicologia, sociologia… Há muita informação (não quantitativa) que nos ajuda a entender. Portanto, não coloque os números num pedestal, mas coloque-os onde eles pertencem: ao lado das palavras.
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Sanne Blauw
O Poder dos Números: Como Estatísticas, Percentagens e Análises nos Enganam e Desenganam
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