Samuel Mateus | Tele-Realidade-O Princípio de Publicidade Mediatizado

1- De que trata este seu livro “Tele-Realidade-O
Princípio de Publicidade Mediatizado”?
R-O livro procura pensar a relação entre Televisão e Sociedade a partir de um
dos géneros de maior sucesso: o reality-show.
Longe de considerarmos este tipo de programação televisiva
como mera degradação ou parente pobre da grelha de programação, procurámos
contemplar a diversidade (temática e programática) com que se nos apresenta.
Por esse motivo, preferimos sublinhar a amplitude do género televisivo e falar
em “programas televisivos de realidade” para assinalar a diferença entre o puro
conteúdo televisivo (o reality-show pensado quase exclusivamente enquanto
game-doc: Big Brother ou Casa dos Segredos) e a dimensão colectiva e pública da
televisão (a tele-realidade).
Por tele-realidade entendemos a função publicitária que a
televisão desempenha através da construção televisiva, semiótica e narrativa da
sua grelha programática. Ela baseia-se numa função social fática operada pela
reprodução simbólica da sociabilidade. O que está em causa, no fundo, é a
mediatização televisiva da publicidade (entendida como qualidade pública) e o
modo como a televisão contribui  para
dinamizar os processos simbólicos que perpassam nas nossas sociedades.
Cada capítulo, à sua maneira, caracteriza as diferentes
facetas da tele-realidade desde o problema da sua ficcionalização, passando
pela sua feição proto-política, até às questões da integração social e da
individualização.
O livro poderá interessar não apenas àqueles que se dedicam
aos Estudos Televisivos mas também à Teoria da Comunicação, Sociologia da
Comunicação, Comunicação Política, Cultura Visual ou Estudos do Documentário.
2- De forma resumida, qual a principal ideia que espera
conseguir transmitir aos seus leitores?
R-  Face a desenvolvimentos da própria
estrutura enunciativa do medium é 
necessário observar  e estudar a
própria função publicitária da televisão. A tele-realidade trata, no fundo, de
uma mediatização do processo publicitário, cumprida por tele-visualização da
experiência social. Ela traduz uma atitude pública relativamente ao papel
social da televisão, em particular, na maneira como os temas e os indivíduos
são colectivamente representados e interpelados.
A configuração contemporânea da televisão de realidade é o
objecto central de análise deste livro.
Contudo, não se trata de uma reflexão
em torno de uma descrição dos seus atributos mas um ensaio que visa investigar
a televisão de realidade a partir da sua faceta publicitária. A tele-realidade
designa, como se afirma no primeiro capítulo, o papel social e público que a
televisão (e a sua grelha de programas) pode potencialmente desempenhar.
A importância da tele-realidade e dos seus programas – que
por vezes roçam o limite do bom-senso e do bom-gosto – reside no facto de eles
serem imagens em bruto que nos permitem ver as nossas próprias sociedades (e a
nós mesmos) assumindo-se, por esse motivo, como extremamente relevantes pela
discussão, análise e conversação que suscitam. Como se ela permitisse uma contracção
do plano simbólico cuja abertura de brechas na superfície possui a vantagem de
nos conceder o privilégio de olharmos de frente para o âmago dos processos
sociais.
3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento no
âmbito do seu processo de investigação?
R- Há algum tempo que estudo a ideia de uma “processo publicitário”, estando de
momento a escrever sobre as particularidades do Serviço Público de Televisão do
ponto de vista da sua relação com o indivíduo comum.
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Samuel Mateus
Tele-Realidade-O Princípio de Publicidade Mediatizado
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