Rui Cardoso: “Reflectir sobre os mitos que foram sedimentando em torno do PREC”

1-Qual a ideia que esteve na origem deste livro “Breve História do PREC”?
R-Passados 50 anos sobre o 25 de Abril, reflectir sobre os mitos que foram sedimentando em torno do PREC. Como, por exemplo, dizer que o país esteve à beira de uma guerra civil. Ou de que a revolução foi violenta e persecutória relativamente aos grandes patrões, à igreja católica, etc. Ora, se houve revolução também houve contra-revolução e esta não foi nada meiga. Sem esquecer essa ideia peregrina de a velha e a nova direita quererem comemorar o 25 de Novembro, quando este foi promovido pelo PS de Mário Soares e pelos militares moderados do Grupo dos Nove. Eles (PPD e CDS) ficaram a ver em que paravam as coisas. Estão, portanto, a querer comemorar o quê? A impotência própria ou o sucesso alheio?

2-Turbulência, imprevisibilidade, reviravoltas, combates ferozes, vitórias efémeras e tudo o mais que se possa imaginar. Hoje, 50 anos depois, consegue dizer o que foi o PREC e que importância teve no nosso país e na construção da nossa democracia?
R-O PREC foi um somatório de coisas, factores, ideias e acontecimentos. A mais óbvia foi a aprendizagem da democracia ao fim de 40 anos de ditadura e a recuperação de Portugal no concerto das nações. Exemplo maior, a aprovação da mais avançada constituição europeia em 1976 (só o CDS votou contra). Foi, também, o ajuste de contas com a História, enterrando de vez o império colonial, o que implicou anular as manobras neocoloniais de Spínola. Finalmente, o despontar de um movimento popular multiforme e não enfeudado aos partidos (moradores, trabalhadores do campo, soldados, trabalhadores de empresas abandonadas pelos patrões, etc) que foi, durante ano e meio um exemplo sem par na Europa de democracia directa, autogestão, etc. E que declina a partir do 25 de Novembro, com a restauração dos mecanismos repressivos tanto policiais como judiciais, temporariamente emperrados.

3-Na investigação que fez para a escrita deste livro, identificou novos factos que, de alguma forma, o surpreenderam e permitem lançar uma nova visão sobre aqueles meses em que, na prática, muito se decidiu com base na força que as diversas facções tinham das ruas?
R-Achei que era importante publicar uma cronologia desenvolvida (1974/76) para estabelecer a factualidade das coisas, única base séria a partir da qual se pode analisar, opinar, etc. E, ao fazê-lo, deparei com pequenos episódios, uns pitorescos, outros trágicos, uns curiosos, outros comoventes, que ilustram a que ponto as pessoas comuns viveram estes novos tempos em que tudo parecia ao alcance da mão. O resto, ou seja o 28 de Setembro, 11 de Março ou 25 de Novembro, podendo ter aspectos ainda por esclarecer, está em larga medida cartografado e explorado.
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Rui Cardoso
Breve História do PREC
Oficina do Livro  15,90€

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