RITA CANAS MENDES | Como publicar o seu Livro

Rita Canas Mendes tem 32 anos e, entre outras coisas, é consultora editorial. 
Acaba de lançar um excelente manual para novos autores num momento em que há dezenas (ou centenas…) de pessoas a publicar (ou a desejar publicar…) os seus primeiros livros.
Este guia é muito útil pois, ao longo das suas páginas, “ficarão com uma noção muito clara das opções ao dispor e dos erros a evitar”.
Para já, um primeiro e decisivo conselho: “O único factor que,  sem margem para dúvidas, fará uma editora dar atenção a um manuscrito é a sua qualidade”. Está dito, palavras de especialista.
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P-Num tempo em que tanta gente escreve livros, um livro como
o seu faz todo o sentido. Foi essa a sua motivação inicial: escrever um guia
para novos autores ou mesmo autores já com obra publicada?
R- Foi, precisamente. Há muitas pessoas a escrever livros, mas,
fora do meio editorial, quase ninguém sabe como funciona ao certo a edição.
Tenham o livro apenas idealizado, o manuscrito na gaveta ou já tenham obra
publicada, o meu guia vem revelar como tudo se processa e dar a todos as
ferramentas necessárias para publicar bem. Quando lerem o livro, ficarão com
uma noção muito clara das opções ao dispor e dos erros a evitar.
P-Andando um pouco para trás: na sua opinião, porque razão
se escreve um livro?
R- As motivações são tão variadas como as pessoas. Em geral,
escreve-se um livro quando se crê ter algo a partilhar. O objectivo pode ser
ambicioso, como deixar uma marca para a posteridade, ou singelo, como dar forma
a um mero desabafo.
P-Dantes parecia que só alguns seriam capazes de ser
autores. A capacidade de escrita deu um salto qualitativo ou existe apenas a
ilusão de que todos nós poderemos ser escritores? E escritores publicados como
tantos actores, políticos, vedetas televisivas ou desportistas…
R- Nas últimas décadas, os níveis de escolaridade aumentaram,
tal como aumentou o tempo para o lazer. As pessoas leem mais e têm mais
disponibilidade para a expressão escrita. É um óptimo sinal que haja tanta gente
a escrever. Todavia, como sucede desde sempre, há autores com maior e menor
qualidade, uns que investem mais no aperfeiçoamento da sua arte e outros que
ficam satisfeitos com o pouco que fazem. Estamos num ponto em que a edição se
democratizou – qualquer pessoa pode publicar um livro –, levando a que haja
obras de menor qualidade em circulação – já que as editoras tradicionais não
servem sempre de filtro. Abriram-se as comportas. Mas creio que, com o tempo,
os leitores se tornarão cada vez mais exigentes. Em geral, porém, o cenário é positivo, e penso que o nível
médio de qualidade continuará a subir.
P-Visto de fora, escrever um livro parece ser fácil. Já
publicar numa editora, diz-se, pode ser uma aventura de loucos. Será verdade?
R- Visto de fora, pode parecer fácil escrever um livro. Mas
– se for bem escrito – está longe de o ser. A escrita – em qualquer área, das
mais técnicas às mais literárias, passando pelo livro infantil – exige muita
bagagem, longas horas de dedicação. Em comparação com esse esforço, publicar
uma obra através de uma editora tradicional não dá trabalho algum. No caso das
editoras tradicionais, estamos perante aliados do autor que se encarregam de
tudo. O autor negoceia condições e participa no processo, mas quase não tem
mais trabalho – nada que se compare com o labor de escrever um livro, pelo
menos. No caso da autoedição – em autonomia ou com uma «vanity press» (editoras
em que o autor paga para ser publicado) –, o autor já terá mais trabalho, sim.
Quanto mais resultados quiser obter, mais terá de se esforçar. Aí, podemos
dizer que dá tanto trabalho escrever um livro como publicá-lo. No entanto, há
que ressalvar que são dois processos bastante distintivos um do outro, que
exigem aptidões muito diferentes.
P-Como consultora, pode dar alguns conselhos a um autor para
conquistar uma editora?
R- Os meus melhores conselhos estão ao longo de todo o
livro. O principal, diria, é apresentar um original com qualidade. O único
factor que, sem margem para dúvidas, fará uma editora dar atenção a um
manuscrito é a sua qualidade. Depois, claro, se a obra for pertinente, se o
autor se mostrar sensato, se a abordagem à editora for pensada (e não
massificada), as suas hipóteses melhoram muito – embora nunca estejam
garantidas.
P-E para conquistar leitores?
R-  No caso dos
leitores, a qualidade volta a ser o factor decisivo. Independentemente do género
e do tema da obra, os leitores só comprarão e recomendarão o livro se ele
cumprir critérios mínimos de qualidade. Depois, quanto mais o livro der
resposta a uma qualquer procura por parte dos leitores, maior sucesso terá.
P-Para os novos autores, vale a pena esperar por uma
oportunidade numa editora ou a autopublicação é o caminho certo?
R- Diria que, se acreditam que o original tem qualidade e
terá procura junto do público, vale sempre a pena tentar uma abordagem às
editoras primeiro. A autoedição tem muitas vantagens, mas também tem
desvantagens. Cada autor terá de ver o que prefere, no seu caso.
P-Em Portugal, edita-se bem ou edita-se mal? Ou, como em
muitos outras atividades, há de tudo?
R- Há de tudo, como sempre houve. Por um lado, edita-se
melhor do que nunca: temos profissionais mais habilitados, mais acesso à
tecnologia, e assim por diante. Por outro lado, como o acesso à edição está tão
facilitado, e como há muito quem pense apenas no lucro imediato, vemos por aí
livros muito fracos enquanto objetos.
P-Se lhe pedir dois bons exemplos de uma muito boa edição de
livros publicados em Portugal, quais lhe surgem imediatamente?
R- A Tinta-da-China tem feito um trabalho notável, tanto na
orientação editorial do seu catálogo como no aspecto gráfico. Outra editora que
desenvolve um trabalho irrepreensível, pelos mesmos motivos, é a Cotovia. São
ambas editoras muito exigentes e com um público específico também muito
exigente.
P-Voltando ao seu livro: pode também ser catalogado com um
manual “faça você mesmo” a edição do seu livro?
R- Sim. Podemos olhar para ele como um mapa, pois fica-se a
conhecer todo o panorama editorial, e como um estojo de ferramentas: os
leitores – quer já tenham publicado livros ou sejam estreantes – encontram ali
tudo o que precisam de saber caso queiram publicar um livro, seja com um editor
parceiro, seja em total autonomia.
P-Há vários anos que se fala no fim do livro em papel e na
massificação do livro digital. O que pensa sobre isso?
R- Há muito que se fala nisso, mas já se percebeu que uma
coisa não vai acabar com a outra. O livro é um suporte quase perfeito, muito
eficaz, e não irá desaparecer nos próximos séculos. No entanto, o livro digital
veio para ficar e, em muitos casos, é mesmo a opção que tem mais sentido. Os
dois formatos podem conviver perfeitamente, e creio que é o que continuará a
acontecer.
P-Para finalizar, ainda é verdadeiro e importante o lema de
vida: “escrever um livro, plantar uma árvore e ter um filho”?
R- Esse lema continua a ter cabimento. Um filho, uma árvore
e um livro são marcas que deixamos no mundo. Não há nada mais humano – e
legítimo – do que a vontade de deixar algo positivo nesta nossa passagem pela
vida.
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Rita Canas Mendes
Como Publicar o seu Livro
Bertrand, 16,60€