Ricardo Ferraz: “Cartas orientadoras da Nação Portuguesa”
1-Qual a ideia que esteve na origem deste seu livro “Os Planos de Fomento do Estado Novo”?
R-Quando me encontrava a desenvolver a minha dissertação de doutoramento acerca das finanças públicas portuguesas no período do Estado Novo, verifiquei que não existia nenhum trabalho que permitisse saber quanto é que tinha sido investido ao abrigo destas importantes ferramentas de política económica que marcaram o terceiro quartel do século XX. Assim sendo, no âmbito do meu primeiro pós-doutoramento, decidi realizar essa investigação. A minha primeira publicação sobre este tema aconteceu no ano de 2020 em forma de artigo científico publicado na revista oficial da Associação de História Económica Espanhola. Agora, com este livro, revelo, de forma pormenorizada e revista a minha investigação que inclui uma análise exaustiva à execução das despesas de investimento de cada um dos planos.
2-De que formas estes planos de fomento influenciaram a realidade portuguesa no século XX?
R-Podemos dizer que entre a década de cinquenta e o início da década de setenta, a economia portuguesa cresceu ao mais elevado ritmo de sempre. Na literatura é possível identificar duas razões fundamentais para o desempenho português: 1) A relativa liberalização e integração da economia portuguesa na economia mundial; 2) a política económica que foi direccionada para a promoção do crescimento da economia. Foi precisamente nessa altura que os dirigentes do Estado Novo decidiram implementar os Planos de Fomento que significaram investimentos nos mais diversos sectores da actividade económica. Portanto, não é possível dissociar esse grande período de crescimento económico da execução destes planos. Assim sendo, no livro, propus a seguinte definição para estes planos: cartas orientadoras da Nação Portuguesa (Metrópole e Ultramar) que marcaram decisivamente a realidade nacional no pós Segunda Guerra Mundial, tendo assumido um papel fundamental no estímulo ao crescimento económico dos territórios portugueses através do investimento (público e privado).
3-Embora muito associados ao regime salazarista, perduraram nos primeiros anos da democracia com um último plano entre 1974 e 1979: como explica este facto?
R-Estas iniciativas vigoraram, na prática, entre 1953 e 1974 e de facto podemos associá-las por inteiro ao Estado Novo: I Plano de Fomento (1953-1958); II Plano de Fomento (1959-1964); Plano Intercalar de Fomento (1965-1967); III Plano de Fomento (1968-1973). Surgiu ainda o IV Plano de Fomento (1974-1979), contudo este último apenas teve um ano de execução (em 1974).
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Ricardo Ferraz
Os Planos de Fomento do Estado Novo
Sílabo Editora 13,80€