Ricardo Dias Felner | Herói no Vermelho
1- O que representa, no contexto da sua obra, o livro «Herói no Vermelho»?
R- Na verdade, não há obra. Se se quiser, há dois livros de não ficção, sobre imigrantes a viver em Portugal, duas encomendas da Gulbenkian, que tiveram a colaboração do fotógrafo David Clifford. De ficção, é o primeiro livro. Representa muita diversão, uma boa dose de paciência e alguma auto-mutilação. Comecei a escrevê-lo em 2000, se bem me lembro, e os primeiros rascunhos não eram brilhantes, digamos. Este é bem capaz de ser um dos livros mais reescritos da literatura portuguesa desde Camões.
2- Qual a ideia que esteve na origem do livro?
R- Várias ideias. Primeira ideia. Trabalhava num jornal que não ligava ao crime. Aliás, achava que o crime não existia, era uma coisa fabricada pelo Correio da Manhã. E eu de cada vez que fazia a ronda de polícias, quando trabalhava na secção Local, ouvia a agente Firmina ler-me os autos de notícia da noite anterior (“grupo de 10 jovens agrediu senhora, na Avenida de Roma, com arma branca”…, coisas deste género). Comecei então a ficcionar alguns episódios de que ia sabendo, um deles o da actriz Lídia Franco, que foi vítima de um assalto com violência no célebre episódio da Crel, no verão quente de 2000. Nessa altura, conheci também alguns bairros da periferia e percebi que havia uma cidade que não aparecia nos jornais, que era ocultada em estatísticas, nos debates das elites e nos discursos oficiais, e que Lisboa era bem mais do que o Saldanha.
3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R- Estou a escrever um quiz sobre sexo para a revista Sábado, o que me fez consultar estudos sobre a matéria. E tenho aprendido coisas muito interessantes, até na área da literatura. Algumas, inclusive, poderão ser úteis se voltar a escrever um novo romance. Só um cheirinho, em exclusivo para a Novos Livros: Sabe quais as três palavras mais usadas em romances light, num total de 10 mil livros, analisados entre 1983 e 2008, na descrição de homens? Resposta certa: maçã do rosto; maxilar e sobrancelha.
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Ricardo Dias Felner
Herói no Vermelho
Quetzal