A República lida nos jornais
Cem anos de República deram oportunidade às mais diversas abordagens de autores com diferentes posições políticas, opções académicas ou, apenas, olhares. Deixou de ser a história, ou as questões de regime, ou os resultados sociais e económicos o que justifica as múltiplas iniciativas editoriais. No fundo, é o balanço de uma opção lançada com uma revolução e que mudou substancialmente Portugal.
A Imprensa teve um lugar privilegiado no desgaste da monarquia, nos apelos ao seu derrube, no elogio do novo regime, nas suas próprias contradições que o enfraqueceram, impediram (maiores) sucessos, e acabaram na clausura que por fim lhe foi imposta por Salazar.
Natural, pois, o objectivo declarado desta obra que é o de traçar a trajectória da Imprensa durante as duas primeiras décadas e meia do século passado. A autora explica nas suas conclusões que visava apontar “os resultados que se estabeleceram no campo jornalístico quanto à acção dos diversos agentes actuantes e impulsionadores duma dinâmica conducente à implantação dum novo regime há muito almejado pelos portugueses”.
No prefácio, João Figueira lembra que “é justamente na observação das linguagens e estratégias que cada um dos jornais utiliza que (…) somos levados a questionar-nos sobre a função do jornalismo”. Mas é preciso atender a que “jamais perceberemos o jornalismo sobretudo aquele que é e foi feito em períodos revolucionários ou num quadro de mudança de regime, se não se tiver em conta os contextos diversos em que ele é e foi desenvolvido”.
Graça Fernandes começa por lembrar que “o primeiro quartel do século XX caracterizou-se pela intensidade e multiplicidade das lutas políticas entre monárquicos e republicanos”. E não deixa, claro, de caracterizar a situação prévia ao 5 de Outubro, nas suas múltiplas vertentes.
Quanto ao estudo da imprensa da época, a autora privilegiou dois jornais, A Monarquia e o República, “cuja análise revela o antagonismo existente entre eles”. E sublinha, desde logo, que a República não silenciou A Monarquia, “órgão dos monárquicos integralistas, cujo regime, havia anos, tinha sido derrubado”.
A par desta abordagem, a autora quis reflectir sobre “o Público e a Massa, ideias basilares e inerentes ao estudo da Opinião Pública”, cuja importância sublinha pelo seu contributo para a queda de regimes políticos como o czarismo na Rússia e a destruição do Império Austro-Húngaro.
Mas, ressalva, “esses movimentos não tiveram influência na queda directa dos governos, embora tenham tido muita influência na evolução dos acontecimentos políticos, na medida em que a própria Opinião Pública foi um reflexo das posições das elites que controlavam os media”.
E não foi sempre?, perguntar-nos-emos. João Figueira recorda que “o meio de comunicação à época era a imprensa e esta era (…) palco dos Homens de Letras e da Política”. A opinião pública burguesa e Habermas estão ali mesmo à esquina, a olhar para estes discursos…
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Graça Fernandes
A Imprensa e a República nos jornais «A Monarquia» e o «República»
Papiro Editora, 16,30€
A Imprensa teve um lugar privilegiado no desgaste da monarquia, nos apelos ao seu derrube, no elogio do novo regime, nas suas próprias contradições que o enfraqueceram, impediram (maiores) sucessos, e acabaram na clausura que por fim lhe foi imposta por Salazar.
Natural, pois, o objectivo declarado desta obra que é o de traçar a trajectória da Imprensa durante as duas primeiras décadas e meia do século passado. A autora explica nas suas conclusões que visava apontar “os resultados que se estabeleceram no campo jornalístico quanto à acção dos diversos agentes actuantes e impulsionadores duma dinâmica conducente à implantação dum novo regime há muito almejado pelos portugueses”.
No prefácio, João Figueira lembra que “é justamente na observação das linguagens e estratégias que cada um dos jornais utiliza que (…) somos levados a questionar-nos sobre a função do jornalismo”. Mas é preciso atender a que “jamais perceberemos o jornalismo sobretudo aquele que é e foi feito em períodos revolucionários ou num quadro de mudança de regime, se não se tiver em conta os contextos diversos em que ele é e foi desenvolvido”.
Graça Fernandes começa por lembrar que “o primeiro quartel do século XX caracterizou-se pela intensidade e multiplicidade das lutas políticas entre monárquicos e republicanos”. E não deixa, claro, de caracterizar a situação prévia ao 5 de Outubro, nas suas múltiplas vertentes.
Quanto ao estudo da imprensa da época, a autora privilegiou dois jornais, A Monarquia e o República, “cuja análise revela o antagonismo existente entre eles”. E sublinha, desde logo, que a República não silenciou A Monarquia, “órgão dos monárquicos integralistas, cujo regime, havia anos, tinha sido derrubado”.
A par desta abordagem, a autora quis reflectir sobre “o Público e a Massa, ideias basilares e inerentes ao estudo da Opinião Pública”, cuja importância sublinha pelo seu contributo para a queda de regimes políticos como o czarismo na Rússia e a destruição do Império Austro-Húngaro.
Mas, ressalva, “esses movimentos não tiveram influência na queda directa dos governos, embora tenham tido muita influência na evolução dos acontecimentos políticos, na medida em que a própria Opinião Pública foi um reflexo das posições das elites que controlavam os media”.
E não foi sempre?, perguntar-nos-emos. João Figueira recorda que “o meio de comunicação à época era a imprensa e esta era (…) palco dos Homens de Letras e da Política”. A opinião pública burguesa e Habermas estão ali mesmo à esquina, a olhar para estes discursos…
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Graça Fernandes
A Imprensa e a República nos jornais «A Monarquia» e o «República»
Papiro Editora, 16,30€