Relendo David Guterson

CRÓNICA
| agostinho sousa

Em 1954 um pescador norte-americano de ascendência alemã é encontrado morto no seu barco, ao largo de uma pequena ilha do Pacífico e todas as suspeitas irão recair sobre outro pescador, de origem japonesa. A trama desenvolvida no julgamento indicia cada vez mais a culpa deste pescador, tendo por base as origens de ambos com destaque para o trauma, ainda presente, causado pela invasão japonesa a Pearl Harbor, na 2.ª Guerra Mundial.
O autor aproveita o julgamento e descreve as diferenças vivenciais entre essas duas culturas – os brancos e os japoneses – que se relacionavam de forma mais ou menos equilibrada até ao deflagrar desse conflito.
O que se passa no tribunal é o reflexo da sociedade norte-americana do pós-guerra, onde um simples apelido ou as feições de alguém eram suficientes para desviar a veracidade de provas num julgamento – público ou judicial.
David Guterson tem uma escrita limpa mas brilhante, com pormenores sobre as personagens e o enredo de grande rigor e riqueza descritiva que, apesar de apresentar as ações em tempos diversos, não confundem o leitor e deixam-no preso até ao fim, na expectativa de qual será a decisão do juiz.
A título de mera curiosidade, há 20 anos que este livro estava esquecido na prateleira e, sem saber nada do autor nem porque o comprei, surgiu-me recentemente a sua lombada num dia de necessidade de nova leitura. Esse encontro casual foi luminoso, uma aposta ganha desde a primeira página e só prova que um bom livro não tem prazo de validade. Uma grande escolha que ainda pode ser adquirida.
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David Guterson
A Neve Caindo sobre os Cedros
Relógio d’Água

Espinho, 25/04/2021