Regresso ao Porto do passado
António Rebordão Navarro é um escritor com créditos firmados na literatura portuguesa e uma longa carreira dividida entre poesia e prosa.
O retrato fiel de um certo Portugal que a ditadura moldou e impôs é um dominador comum a parte da sua obra e voltamos a encontrá-lo neste “As ruas presas às rodas”, um interessante romance de pouco mais de uma centena de páginas.
Com um discurso na primeira pessoa, muito intimista, o livro narra a vida de um motorista de táxi, que vê a cidade, o país e o mundo através do que observa e das conversas com os clientes.
Um azar (ou mal-entendido) leva-o a ficar sem o carro, apreendido pela polícia, e a procurar a ajuda de um advogado para recuperar o seu ganha-pão.
Enquanto isso, desfia a história da sua vida, levando o leitor numa viagem ao passado – o seu passado, mas também o passado de gerações de portugueses, quando a vida era uma longa e interminável luta pela sobrevivência.
É o Porto salazarista que perpassa por estas páginas, que não é mais do que um microcosmos do País de então.
O motorista lembra a infância com a mãe, uma rapariga pobre que se deixa embalar na conversa tentadora de um jovem estudante e acaba grávida e sozinha com um filho nos braços. O estudante, esse, torna-se homem, casa bem e detém um cargo importante na constelação do poder.
O miúdo vai crescendo, qual personagem do “Aniki Bobó” de Manoel de Oliveira, entre brincadeiras na rua, puxões de orelhas, “namoro” aos brinquedos das montras que nunca terá e convívio com prostitutas – uma delas, aliás, ensiná-lo-á a ler, incutindo-lhe o amor pelos livros que jamais o abandonará.
Muitas outras personagens, retratos vívidos das gentes do Porto, vão entrando e saindo do relato do taxista, na sua viagem interior que é, sobretudo, uma viagem ao que fomos, à nossa memória coletiva de tempos que julgávamos para sempre ultrapassados.
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António Rebordão Navarro
As ruas presas às rodas
Edições Afrontamento, 13€
O retrato fiel de um certo Portugal que a ditadura moldou e impôs é um dominador comum a parte da sua obra e voltamos a encontrá-lo neste “As ruas presas às rodas”, um interessante romance de pouco mais de uma centena de páginas.
Com um discurso na primeira pessoa, muito intimista, o livro narra a vida de um motorista de táxi, que vê a cidade, o país e o mundo através do que observa e das conversas com os clientes.
Um azar (ou mal-entendido) leva-o a ficar sem o carro, apreendido pela polícia, e a procurar a ajuda de um advogado para recuperar o seu ganha-pão.
Enquanto isso, desfia a história da sua vida, levando o leitor numa viagem ao passado – o seu passado, mas também o passado de gerações de portugueses, quando a vida era uma longa e interminável luta pela sobrevivência.
É o Porto salazarista que perpassa por estas páginas, que não é mais do que um microcosmos do País de então.
O motorista lembra a infância com a mãe, uma rapariga pobre que se deixa embalar na conversa tentadora de um jovem estudante e acaba grávida e sozinha com um filho nos braços. O estudante, esse, torna-se homem, casa bem e detém um cargo importante na constelação do poder.
O miúdo vai crescendo, qual personagem do “Aniki Bobó” de Manoel de Oliveira, entre brincadeiras na rua, puxões de orelhas, “namoro” aos brinquedos das montras que nunca terá e convívio com prostitutas – uma delas, aliás, ensiná-lo-á a ler, incutindo-lhe o amor pelos livros que jamais o abandonará.
Muitas outras personagens, retratos vívidos das gentes do Porto, vão entrando e saindo do relato do taxista, na sua viagem interior que é, sobretudo, uma viagem ao que fomos, à nossa memória coletiva de tempos que julgávamos para sempre ultrapassados.
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António Rebordão Navarro
As ruas presas às rodas
Edições Afrontamento, 13€