Reflectir sobre a guerra

A troca de correspondência tem permitido a revelação de pensamentos, gostos, costumes e um sem número de pequenos segredos que ajudam a conhecer pessoas e épocas, no que têm de mais profundo e íntimo.
Muitos autores têm recorrido ao género epistolar, com resultados por vezes bastante interessantes. Também a descoberta de certas cartas tem, por vezes, revelado facetas desconhecidas de certas personalidades. Mas no caso presente, as duas cartas foram escritas com o objectivo, definido à partida, de serem tornadas públicas. Falamos de um pequeno livro de bolso, recentemente editado pela Publicações Europa-América, com a troca de correspondência entre duas personalidades incontornáveis: Albert Einstein e Sigmund Freud. Trata-se de “Porquê a Guerra?”, um opúsculo editado em 1933, simultaneamente em alemão, francês e inglês, pelo Instituto Internacional de Cooperação Intelectual, um organismo das Nações Unidas criado em 1926.
É preciso atender à época: vive-se no rescaldo da I Guerra Mundial, pouco depois de Hitler subir ao poder, um tempo marcado pela inquietação e o receio de que a paz não tenha vindo para ficar.
A pequena obra começa com um enquadramento sobre o relacionamento entre os dois cientistas, que nem sempre foi fácil, sobretudo pelas reservas que Einstein colocava à psicanálise e à sua assunção como ciência.
No entanto, quando lhe foi endereçado o convite para a realização do segundo volume de “Correspondências” – cabendo-lhe seleccionar uma personalidade para com ela reflectir sobre um problema actual –, Einstein escolheu Freud para com ele debater a seguinte questão: “Há alguma forma de livrar a humanidade da ameaça da guerra?”.
Ao contrário do que se poderá pensar – e Freud refere-o logo no início da sua carta – não se trata de uma discussão entre dois académicos, mas entre dois homens preocupados com o destino do Homem.
Nos tempos conturbados que vivemos, em que está a ser posto em causa tudo o que foi alcançado a nível social desde o pós-guerra, vale a pena voltar atrás e escutar as reflexões destes dois homens. Certamente estão lá respostas – ou questões – tão actuais ontem como hoje. Como esta, de Einstein: «O apetite pelo poder que a classe dirigente de um Estado manifesta opõe-se a uma limitação dos seus direitos de soberania. Este “apetite político de poderio” encontra frequentemente alimento nas pretensões de uma outra categoria cujo esforço económico se manifesta de uma maneira inteiramente materialista.»
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Albert Einstein e Sigmund Freud
Porquê a Guerra?
Publicações Europa-América, 7,90 €