Recomeçar na meia-idade
Perder o amor de alguém que pensamos estar feliz ao nosso lado é, obviamente, uma situação dolorosa. Mas perder esse alguém para a nossa colega e amiga e, por acréscimo, perder também o emprego é um terramoto na nossa vida. Foi o que aconteceu a Rose Lloyd, protagonista de “A Vingança de uma mulher de meia-idade”, da inglesa Elizabeth Buchan.
Ao contrário do que o título pode sugerir, a vingança desta mulher é diferente – e muito mais saudável, diga-se – da que tradicionalmente acontece neste género de situações. Aliás, não poucas vezes sentimos uma certa irritação pelo comportamento (quase) absolutamente correcto desta mulher que em pouco tempo passa de um casamento idílico a um divórcio bem menos perfeito.
Mas comecemos pelo princípio. Rose Lloyd encarna a vida que qualquer mulher deseja: aos quarenta e tal anos continua apaixonada pelo marido, Nathan, com quem mantém uma excelente relação; tem dois filhos já adultos, uma carreira bem sucedida (é crítica literária no jornal onde o marido é editor-adjunto) e uma casa excelente, com jardim, numa das melhores zonas de Londres. Resumindo, a vida corre-lhe bem. Até que a sua jovem, simpática e bonita secretária atrai a atenção de Nathan, que se apaixona por ela e em dois tempos sai de casa.
Como se este caos sentimental não bastasse, o jornal aproveita a oportunidade da separação do casal para “convidar” Rose a rescindir (com uma boa indemnização, é verdade), escolhendo para substitui-la a bonita secretária. Motivo: arejar a secção literária, torná-la mais jovem e atractiva (onde é que já ouvimos isto?)
Com humor, elegância e uma grande dose do que convencionámos chamar “compostura britânica”, Elizabeth Buchan narra o desmoronar de um casamento, o difícil trabalho de luto de uma relação e começo de uma nova vida. Sem exageros dramáticos mas com contida emoção. “A Vingança de uma mulher de meia-idade” revela-se uma leitura interessante.
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Elizabeth Buchan
A Vingança de uma mulher de meia-idade
Presença, 17,50€