R. Lino | Baixo-Relevo
1 – O que representa, no contexto da sua obra, o livro
“Baixo-Relevo”?
“Baixo-Relevo”?
2 – Qual a ideia que esteve na origem deste livro?
R-Assumindo que tal possibilidade me é concedida enquanto
entrevistada, vou incluir, numa única resposta, as duas primeiras perguntas.
Existem entre elas tantos laços – de causas, de efeitos e de reiteradas
insistências-, que tenho alguma dificuldade em separá-los, tanto mais que, em
poesia, são muitas vezes os versos, nossos ou de outros, que dão origem à fala
das ideias.
entrevistada, vou incluir, numa única resposta, as duas primeiras perguntas.
Existem entre elas tantos laços – de causas, de efeitos e de reiteradas
insistências-, que tenho alguma dificuldade em separá-los, tanto mais que, em
poesia, são muitas vezes os versos, nossos ou de outros, que dão origem à fala
das ideias.
“Baixo-Relevo”, corajosamente editado este ano pela
extraordinária Companhia das Ilhas, de Carlos Alberto Machado, acabou por ser
um pequeno livro de homenagem declarada à escrita e, em particular, à escrita
poética; ao seu trabalho de criação, de
destruição e de recriação; aos seus modos específicos de fazer respirar as
palavras e o tempo. Os nomes que evoco (explicitados ou apenas sugeridos)
fundaram, em mim, preferências e rejeições. É, também, e mais uma vez, um livro
de vozes anónimas e de circunstâncias que desaguam nos dias do meu corpo, nos
do meu país e nos do planeta em que vivo, escrevendo-as ora a partir de “tanto sonho / que gera
por isso o que falta / e que às vezes é medonho”, ora a partir das
“alegrias que eu vi / quando em cheio lhes acertavam / todas as horas da
fantasia”.
extraordinária Companhia das Ilhas, de Carlos Alberto Machado, acabou por ser
um pequeno livro de homenagem declarada à escrita e, em particular, à escrita
poética; ao seu trabalho de criação, de
destruição e de recriação; aos seus modos específicos de fazer respirar as
palavras e o tempo. Os nomes que evoco (explicitados ou apenas sugeridos)
fundaram, em mim, preferências e rejeições. É, também, e mais uma vez, um livro
de vozes anónimas e de circunstâncias que desaguam nos dias do meu corpo, nos
do meu país e nos do planeta em que vivo, escrevendo-as ora a partir de “tanto sonho / que gera
por isso o que falta / e que às vezes é medonho”, ora a partir das
“alegrias que eu vi / quando em cheio lhes acertavam / todas as horas da
fantasia”.
Este livro, que acolheu dois
poemas mais antigos do que ele, acolheu, igualmente, alguns poemas que
fui escrevendo enquanto me encaminhava
para, ou atravessava, a construção de outros livros: num primeiro momento, os
dois últimos publicados na década de 80 do século passado; num segundo momento,
:Predação: / Urânia, Nós e as Musas, publicado em Setembro de 2012. Talvez seja esta a outra explicação para que,
nele, apareçam duas “artes poéticas”.
poemas mais antigos do que ele, acolheu, igualmente, alguns poemas que
fui escrevendo enquanto me encaminhava
para, ou atravessava, a construção de outros livros: num primeiro momento, os
dois últimos publicados na década de 80 do século passado; num segundo momento,
:Predação: / Urânia, Nós e as Musas, publicado em Setembro de 2012. Talvez seja esta a outra explicação para que,
nele, apareçam duas “artes poéticas”.
Quanto ao título, faço votos para que seja o decifrado
enigma da viagem que é proposta a cada leitor.
enigma da viagem que é proposta a cada leitor.
3 – Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R-Não sei muito bem o que seja o futuro. Talvez o futuro
seja o que eu quero como alimento ou como repúdio do que me é presente (e esta
é uma época em que somos terrivelmente confrontados com a necessidade de
procurar alimentos e de aprofundar repúdios). Nestas dinâmicas, incluo tudo o
que, nos caminhos do humano, nos confronta com o ser híbrido que somos: gente
cuja cara já não é focinho; gente cujo focinho já foi desfigurado pela cara;
gente que disfarça o focinho com a cara; caras que se esforçam por ser caras, à
procura de caminhos que permitam reconstituir a sua estilhaçada humanidade.
Neste momento, quero, finalmente, concluir Mapas – ou, antes, os Mapas é que
querem, agora, chegar à sua conclusão. Quando o fizer, concluirei também o
painel de que fazem parte os livros Palavras do Imperador Hadriano (1984),
Atlas Paralelo (1984), Paisagens de Além Tejo (1986) e Daquira (1988). A seguir,
tenho mais livros ’em percurso’. A relação que tenho com o tempo dos meus
versos não é linear: umas vezes são eles que esperam por mim; outras, sou eu
que espero por eles; ainda outras, sabemos que temos de ficar à espera; outras
ainda, não sabemos o que seja esperar…
seja o que eu quero como alimento ou como repúdio do que me é presente (e esta
é uma época em que somos terrivelmente confrontados com a necessidade de
procurar alimentos e de aprofundar repúdios). Nestas dinâmicas, incluo tudo o
que, nos caminhos do humano, nos confronta com o ser híbrido que somos: gente
cuja cara já não é focinho; gente cujo focinho já foi desfigurado pela cara;
gente que disfarça o focinho com a cara; caras que se esforçam por ser caras, à
procura de caminhos que permitam reconstituir a sua estilhaçada humanidade.
Neste momento, quero, finalmente, concluir Mapas – ou, antes, os Mapas é que
querem, agora, chegar à sua conclusão. Quando o fizer, concluirei também o
painel de que fazem parte os livros Palavras do Imperador Hadriano (1984),
Atlas Paralelo (1984), Paisagens de Além Tejo (1986) e Daquira (1988). A seguir,
tenho mais livros ’em percurso’. A relação que tenho com o tempo dos meus
versos não é linear: umas vezes são eles que esperam por mim; outras, sou eu
que espero por eles; ainda outras, sabemos que temos de ficar à espera; outras
ainda, não sabemos o que seja esperar…
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R. Lino
Baixo Relevo
Companhia das Ilhas, 6,45€