Pedro Correia e Rodrigo Gonçalves | Política de A a Z

1- Comecemos com uma pequena provocação: é mesmo possível
compreender o sistema político português?
Rodrigo Gonçalves: Sim, mas existem várias vertentes desse
sistema que importa esclarecer. A Constituição de 1976 consagra um sistema
semipresidencial, com vincado pendor parlamentarista. O Presidente da República
e os deputados à Assembleia da República são eleitos por sufrágio direto,
secreto e universal. Esta é, de forma muito genérica, a explicação teórica.
No entanto um sistema pode ser também definido como um
conjunto de elementos interdependentes que, por se complementarem, formam um
todo organizado. Nesta perspetiva, quando falamos do nosso sistema político,
incluímos a grande maioria dos conceitos que estão no livro Política de A a Z,
desde Autoridade, passando por Bipolarização, por Democracia, por Governo, por
Representação e acabando em Sufrágio Universal. Mas o fator mais determinante para perceber o sistema é
saber interpretar a sua forma de comunicar e é exatamente isso que oferecemos
aos leitores. Ajudar a decifrar o sistema, nas mais variadas vertentes, é o
nosso objetivo. Oferecemos uma forma clara de compreender todas as nuances da
ação e comunicação política, com uma linguagem acessível, mas cuidada. Portanto
a resposta à provocação é sim, claro que sim!
2- Qual a principal ideia que esperam transmitir aos vossos
leitores? 
Rodrigo Gonçalves: A principal ideia que pretendemos transmitir aos nossos
leitores é a de que estamos perante uma ferramenta de participação cívica e de
intervenção política. Ao descodificarmos a linguagem política permitimos aos
leitores que participem de forma mais esclarecida no processo de decisão.
Assim, garantindo que se compreende a forma como se comunica, oferecemos a real
hipótese de influenciar a decisão dos agentes políticos. Oferecemos
conhecimento e com isso oferecemos poder. Porém, o objetivo máximo desta
ferramenta de cidadania é conseguir aproximar os cidadãos da política.

Pedro Correia: A principal ideia é tornar a política não apenas mais
acessível mas também mais aliciante – desde logo por ser útil. E deixar bem
claro que nenhuma escolha fundamental das nossas vidas é possível sem ela. Ao
enquadrá-la no tempo e no espaço, com a ajuda de pequenas histórias que
contribuem para a compreensão de cada conceito, pretendemos que os leitores
percebam que as opções políticas não são irrelevantes e podem até alterar o
destino humano. Se aplaudimos um governante com instintos bélicos, por exemplo,
no limite estaremos a favorecer uma declaração de guerra. Para optar em
consciência, devemos conhecer as ideias em confronto. E quanto mais em pormenor
as conhecermos mais perceberemos que nem todos os sistemas políticos são
iguais, como alguns sustentam. É preferível viver em democracia do que em
ditadura, é incomparavelmente melhor ser cidadão num Estado de Direito do que
ser súbdito de um tirano. Entre a Noruega e a Coreia do Norte, por exemplo,
quem optaria por viver neste último país?
3- O vosso livro tem mais de 300 verbetes (de “Absolutismo”
a “Zé Povinho”) mas nenhum sobre os “ismos” associados a personalidades
marcantes da atualidade: eanismo, cavaquismo, soarismo. Porquê?
Pedro Correia: Com raras excepções, os ismos associados a
personalidades são datados e circunstanciais: funcionam sobretudo para consumo
jornalístico de curto prazo. Esta é uma obra que não se circunscreve a uma
lógica jornalística, prefere ter uma visão mais ampla. Daí a inclusão de
verbetes associados a personalidades históricas, embora diferentes dos que são
mencionados na pergunta. Do nosso Sebastianismo, que perdura há mais de quatro
séculos, ao Estalinismo ou ao Maoísmo, mais contemporâneos e de muito mais
fresca (e trágica) memória. 
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Pedro Correia/Rodrigo Gonçalves
Política de A a Z
Contraponto, 16,60€