Pedro Boucherie Mendes: “Anos 80: a década em que começa a modernidade em Portugal.”
[Fotografia: Simão Boucherie Mendes]
1-Qual a ideia que esteve na origem deste seu livro “A Década Prodigiosa: Crescer em Portugal nos Anos 80”?
R-Ocorreu-me um dia que as gerações do futuro não iriam saber a importância que pessoas como Herman José e Miguel Esteves Cardoso tiveram na minha geração (nasci em 1970). Decidi que haveria de falar do seu período de princípio de carreira, da sua era dourada. Fui a partir daí e fui dar aos anos 80 inteiros.
2-Do seu ponto de vista, o que mais e melhor distingue esta década no contexto do nosso país?
R-É a primeira década completamente vivida em democracia. Também é a década em que começa a modernidade em Portugal. Nascerá a classe média e pela primeira vez não há apenas os muito ricos, que eram muito poucos e os muito pobres, que eram quase todos. Nasce no meio uma classe social que vai querer que os seus filhos vão para a universidade, por exemplo. Ou que tirem a carta logo aos 18 anos.
3-O livro é uma autobiografia pessoal do seu autor naquela época ou podemos dizer que é uma biografia de toda uma geração?
R-Parto de episódios que se passaram comigo, na escola, a ir a concertos, a comprar discos, a ir discotecas e procuro pontos de contacto com pessoas que tenham 50 a 60 anos em 2025 e possam ter tido uma juventude como a minha.
4-Como processo de pesquisa e de escrita, como foi conciliar acontecimentos tão díspares como as presidenciais (Mário Soares/Freitas do Amaral) e o aparecimento da televisão a cores. Ou a afirmação do humor de Herman José e os governos tão cinzentos como os de Cavaco Silva?
R-Das duas uma, ou tive sorte ou tive o talento de conseguir entrançar todas essas dimensões. Diria que foi uma mistura das duas. Tenho tido feedback muito emocionante, de pessoas que me dizem que nunca tinham lido um livro com tantas páginas e nunca se tinham sentido a fazer tão parte de qualquer coisa.
5-Passaram mais de 30 anos: sente que o espírito da década de 1980 ainda está presente nos nossos dias? Em quê?
R-Creio que não. Curiosamente, creio que a geração que hoje está no poder e viveu essa década não se lembra muito bem do grande otimismo e entusiamo que nos caracterizou.
6-Pensando no futuro: o que está a escrever atualmente?
R-Tanta coisa. Não quero fugir à questão, mas estou mesmo a escrever muita coisa. Logo se vê se alguma é para publicar.
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Pedro Boucherie Mendes
A Década Prodigiosa: Crescer em Portugal nos Anos 80
Publicações Dom Quixote 29,90€