Pedro Almeida Maia | Nove Estações


1- O que representa, no contexto da sua obra o livro “Nove
Estações”?
R- Este livro representa essencialmente uma fuga aos estilos
em que me sentia mais confortável, apesar de se poder encontrar alguns pontos
comuns à Psicologia. É uma exploração sentimental de uma dimensão pessoal que
ainda não tinha sido transposta para o papel, pelo menos tão deliberadamente.
Ao dedicá-lo aos meus avós, tento espelhar a serenidade que desejamos no
momento de dizer adeus a alguém. O texto foi escrito neste contexto de
introspeção acerca do amor, da morte e da necessidade que o ser humano tem de
viajar e de explorar o que desconhece por fora para se conhecer melhor por
dentro. Quem conhece o meu trabalho saberá que o tema “Açores” é transversal.
Não só continuo a deixar-me definir pelas ilhas onde nasci e cresci, como
também as vejo como fruto da minha mensagem. O arquipélago molda-me e eu crio a
minha representação dele, num ciclo interminável.

2- Qual a ideia que esteve na origem deste livro?
R- Além de nove ilhas, os Açores têm ilhéus inexplorados,
pedaços de terra resistentes, alguns deles abandonados, outros nem tanto.
Tencionava levar os leitores a viajarem comigo à descoberta desses tesouros.
Não em forma de guia turístico, antes em analogia às pequenas boas coisas que
nos rodeiam todos os dias e às quais não damos importância. Assim faz a
personagem Desirée, uma canadense que viaja quatro mil quilómetros em busca de
uma verdade. Depois de lhe morrer nos braços uma pessoa próxima, um poema foi a
única herança concedida. A adolescente encontra um jovem que vai ser a melhor
companhia possível, e às vezes a pior, na viagem das suas vidas. O final da
história pretende despertar no leitor uma visão alternativa sobre a vida e a
morte, sendo que não são contrários. O contrário da morte é o nascimento. A
vida é o que acontece no entretanto.

3- Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R- Terminei um romance de ficção que se pode definir como
uma viagem utópica. O cenário é no ano de 2050 e pretendo demonstrar até onde
pode chegar a humanidade quando realmente deseja prosperar, revelando o melhor
dos cenários para o uso ponderado das capacidades da nossa espécie, mas também
um desaire distópico que alerta para onde caminhamos se nada for feito. A atual
preocupação com os recursos do planeta, com o aumento exponencial da população
e com as alterações do clima levou-me a investigar nessas áreas e a partilhar
com os leitores uma visão muito pessoal de um possível futuro para os nossos
filhos. Com a intensificação das migrações para norte, uma União Europeia a
desfazer-se (sem Portugal, Reino Unido e outros países) e com os oceanos como
fonte de recursos importante, coloco questões pertinentes, como a importância
geoestratégica dos Açores e da Madeira para uma economia em que o dinheiro
deixa de existir fisicamente e as pessoas deslocam-se em comboios
transatlânticos de levitação magnética. O texto encontra-se em revisão.
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Pedro Almeida Maia
Nove Estações


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