Pedro Almeida Maia: “Ainda vivemos numa sociedade em desequilíbrio”

1-O que representa, no contexto da sua obra, o livro «A Escrava Açoriana»?
R- Neste ano em que comemoro 10 anos de livros, tem especial significado por representar uma nova fase. Publicar com a Cultura Editora foi um passo importante para chegar a uma audiência maior, algo que eu desejava concretizar, mantendo o respeito por todas as pessoas e entidades que têm contribuído, ao longo desta primeira década, para que as minhas histórias cheguem mais longe. Representa também a vontade de diversificar narrativas, desta vez apresentando uma personagem feminina e um enredo muito focado nas questões da diferença de género num tempo em que as mulheres não tinham voz. Ainda vivemos numa sociedade em desequilíbrio, onde se pratica a escravatura e o trabalho mal reconhecido. Todos estes temas devem preocupar-nos, se desejarmos evoluir como sociedade.

2-Qual a ideia que esteve na origem deste livro?
R- Interessei-me pelo tema da escravatura branca logo após terminar a escrita do meu livro anterior. Neste «A Escrava Açoriana» descrevo um outro período importante da nossa História: em finais do século XIX, o mundo está a sofrer mudanças nos seus regimes monárquicos, o Reino de Portugal trata os Açores como ilhas esquecidas e o Império do Brasil tenta contrariar a Lei Eusébio de Queirós, que tinha proibido a importação de escravos e o tráfico negreiro. Mas, como o Brasil necessitava de mão de obra para as suas plantações, criou uma imagem para o exterior de um destino aprazível, com a intenção de atrair um grande número de brancos europeus. Prometiam-lhes uma vida melhor, trabalho, sítio para morar e comida, só que a realidade era muito diferente: eram sujeitados a condições semelhantes à escravatura na duração dos seus contratos. Esses contratos, de entre cinco a vinte anos de vigência, serviam para os trabalhadores pagarem a dívida acabada de contrair, da própria viagem. Muita dessa mão de obra partiu dos Açores.

3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R- Apesar de estar bastante concentrado na promoção do novo livro, que incluirá apresentações em vários pontos do país, continuo a escrever contos e a participar em antologias e revistas literárias. Outra atividade que tem vindo a ganhar terreno é a escrita para música, prevendo-se para breve alguns novos trabalhos em que participo como letrista. No que diz respeito ao próximo romance, posso adiantar que será sobre uma personagem pouco conhecida dos Açores que viveu nos Estados Unidos da América durante a Lei Seca.
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Pedro Almeida Maia
A Escrava Açoriana
Cultura Editora  17,50€

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