Paulo Nogueira: “Convém defender aquilo que consideramos precioso, antes que seja demasiado tarde”

1-Qual a ideia que esteve na origem deste seus ensaio “O Cancelamento do Ocidente”?
R-Abordei algumas questões que analiso nesse novo livro no meu ensaio anterior, de 2022, Todos os Lugares São de Fala [Entrevista]. Desde então, percebi que aquelas patologias sociais e culturais não apenas se agravaram como se ampliarem assustadoramente. Daí que o âmbito de O Cancelamento do Ocidente seja muito mais vasto e sistemático – sobretudo histórico. Creio que vivemos de facto uma crise civilizacional alarmante, e que as nossas opções precisam de ficar bem claras, enquanto ainda é possível salvar se não os anéis, pelo menos os dedos.

2-A ofensiva global dos wokistas é muito forte e a liberdade de expressão (que julgávamos garantida) está em perigo: como foi tudo isto possível?
R-Os valores que eram os pilares do Ocidente – a democracia, a igualdade, a meritocracia, a liberdade de expressão e até a ciência -, e um património humano universal (não admira que haja uma migração massiva de orientais para nações ocidentais, mas não vice-versa), há pelo menos três gerações estão a ser torpedeados, rejeitados, caluniados – e ignorados. E precisamente por mandarins ocidentais, a quem chamo de “ricos e mal-agradecidos”. Essa elite – que está nas universidades, na imprensa, nas instituições e até nas maiores corporações privadas – não só detém um quase monopólio da informação, como dita o que pode ou não ser publicado, discutido, analisado, através da censura e do cancelamento, que gera intimidação e autocensura. Para essa elite, trata-se de unir o útil ao agradável, pois lucram com os seus ideiais, e passam por virtuosos.

3-De que forma os amantes da democracia podem combater esta cultura do cancelamento que percorre a sociedades democráticas?
R-O único caminho é a contrainformação possível. Na verdade, a esmagadora maioria das pessoas não subscrevem esse desvario woke. Mas, seja por conformismo, por perplexidade, por ignorância ou por um receio compreensível de correr riscos (perder a reputação, amigos, familiares, o emprego ou até a vida), se abstêm. É preciso mostrar que, por vezes, convém defender aquilo que consideramos precioso, antes que seja demasiado tarde.
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Paulo Nogueira
O Cancelamento do Ocidente
Guerra e Paz  17€

Paulo Nogueira na “Novos Livros” | Entrevistas

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