Paulo Moura: Hipnose
1-Depois de outros livros, «Hipnose» é o seu primeiro romance: como espera poder olhar para ele daqui a 20 anos?
R-Não foi fácil começar a escrever histórias inventadas, após 30 anos de não-ficção. Já tinha feito uma experiência, há mais de dez anos, com uma pequena novela sobre a conquista de Lisboa de 1147, mas este é realmente o primeiro romance. Por isso, não consigo deixar de vê-lo como uma experiência, uma aprendizagem, a busca de uma voz própria. No processo, encontrei (ou espero ter encontrado) todas as minas e armadilhas que a escrita de ficção põe no caminho do jornalista: a inutilidade de inventar factos extraordinários e inverosímeis, o sentimento de culpa por contar mentiras, depois de toda uma vida a apurar técnicas de apuramento e confirmação da verdade. Portanto, espero poder olhar para o Hipnose, daqui a 20 anos, como o primeiro de uma vintena de romances escritos com a minha própria voz. Não deixarei de escrever reportagens e livros de viagens, mas lembrarei o Hipnose como uma espécie de chave de uma casa nova.
2-Qual a ideia que esteve na base desta obra?
R-Tudo começou com um conjunto de histórias verdadeiras e de personagens reais que de repente me pareceram ter uma ligação secreta entre si. Uma politóloga que queria fazer diplomacia por conta própria, um jornalista que foi manipulado até causar uma guerra, um clube sado-masoquista, um instrumento musical que provocava a loucura, um hipnotizador que trabalhava para o governo americano. A ideia de hipnose sempre me interessou muito, como princípio activo da nossa conduta individual. Mas se a aplicarmos à vida colectiva, à política dos países e do mundo, na era das redes sociais, encontramos um crivo de interpretação assustador. Sabe-se que 20 por cento das pessoas são totalmente hipnotizáveis, porque desejam sê-lo. Talvez seja essa a principal lei da política, no mundo de hoje.
3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R-Estou a concluir Cidades do Sol, um livro de viagens — uma busca pelos sonhos e utopias das novas classes médias asiáticas, percorrendo uma dúzia de mega-cidades do Oriente, desde Bangalore, Manila e Jacarta, até Shenzen, Hong Kong e Seul. Terminei a invenção do enredo e estou no início da escrita de um outro livro de ficção, que retoma a ideia de hipnose, numa abordagem de romance histórico. E ainda estou a preparar um livro sobre o jazz em Portugal e uma investigação política (secreta), como bolseiro da Gulbenkian.
__________
Paulo Moura
Hipnose
Suma de Letras 17,70€