Paulo Leminski: a poesia toda
CRÓNICA
| Rui Miguel Rocha
Acabo Toda Poesia do Paulo Leminski na Imprensa Nacional-Casa da Moeda.
Samurai do Haikai, reinventor da língua, poeta experimental, O’Neill e Matsuo Bashõ juntos, humor ao mesmo tempo inocente e contundente: a flor e o martelo.
O tempo a passar: “Uma vida é curta/para mais de um sonho.” Coisas dentro de coisas dentro de coisas: “Quem me dera/um mapa de tesouro/que me leve a um velho baú/cheio de mapas do tesouro”. Os instantes infinitos “o tempo/entre o sopro/e o apagar da vela”. As coisas pequenas não tão pequenas porque eternas “minha mãe dizia/-ferve, água!/-frita, ovo!/-pinga, pia!/e tudo obedecia”. Versos que eu penso ao contrário “quando eu tiver setenta anos/então vai acabar esta adolescência “. Uma gase ou uma cortina “só uma nuvem/te separa/das estrelas” porque tudo é feito de sonhos e “o barro/toma a forma/que você quiser”. Estamos de acordo em olhar de frente a chuva “a chuva vem de cima/correm/como se viesse atrás”. Só um brasileiro pode escrever “Não há merda que se compare/à bosta da pessoa amada”, mesmo sendo verdade, aqui, neste lugar, talvez Cesariny, talvez escrever sem razão, ou porque tem de ser “Eu escrevo apenas./Tem de ter porquê?” E depois todas as nossas dúvidas partilhadas “Mal rabisco,/não dá mais para mudar nada./Já é um clássico.” Isso porque todos precisamos de um “anjo de vanguarda” porque “um bom poema/leva anos” e todos são poetas “lá fora e no alto/o céu fazia/todas as estrelas que podia”
Mas para tudo é preciso sorte porque “parar dá azar” e “Ai do acaso,/se não ficar do meu lado” para acabar em “vida e morte/amor e dúvida/dor e sorte//quem for louco/que volte”.
O poeta nunca dá o flanco pois “ser tigre/dura a vida/inteira”, mas vive sob um lema, todos temos o nosso sujeito a variações, como o tempo que parece rápido para quem pisa lento ou não pisa, para o que tem medo de viver, para o cobarde, mas nunca para quem se rege pelo poema “passos lentos/escrevem/VONTADE DE CHEGAR//precisa andar/como quem já chegou//chega de chegar//depressa/ é muito devagar”.
E de te ler ganhei vida.
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Paulo Leminski
Toda Poesia
Imprensa Nacional Casa da Moeda 25€