Paulo Finuras: Da natureza das causas
1 – Qual a ideia que esteve na origem deste seu livro «Da Natureza das Causas»?
R – Trata-se de uma compilação de artigos publicados em sites e em jornais científicos entre 2016 e 2019 incluindo investigação empírica de suporte a alguns deles. O título é uma inspiração não só a partir dos conteúdos como a partir de um poema de Lucrécio chamado De Rerum Natura (Da natureza das coisas). Como os artigos se referem às causas por trás dos comportamentos humanos que ocorrem apesar das diferenças culturais e não por causa delas, achei adequado falar da natureza das causas desses mesmos comportamentos. Por outro lado, parece-me haver um vazio enorme na língua portuguesa no que se refere a obras de divulgação científica baseadas no paradigma evolutivo. Quem quiser abordar qualquer um dos temas a que me refiro no livro terá de dominar o inglês, caso contrário dificilmente encontrará qualquer trabalho em português (sejam artigos ou livros).
2 – Dos 41 capítulos que compõe a sua obra 35 são perguntas, têm um ponto de interrogação: mas quais as respostas que já é possível ir dando?
R – As respostas são numa ótica essencialmente absoluta e não aproximada. Ou, se quisermos, são mais voltadas para a filogenia do comportamento humano e menos para a ontogenia. Parece haver receio em abordar certas questões relativas ao comportamento humano numa ótica que destape o que está por trás da camuflagem cultural e penetre nas verdadeiras causas e na sua natureza. Por exemplo, a liderança entre os seres humanos. As suas causas são não apenas biológicas como comuns a todas as sociedades humanas. O domínio dos cargos de poder e de estatuto pelos homens tem por trás raízes evolutivas e biológicas que têm a ver com os custos de reprodução da nossa espécie e a seleção social e sexual associada. Não somos diferentes de outras espécies, no fundo.
3 – Este livro foi escrito ainda antes da pandemia: seria um livro muito diferente se fosse escrito agora?
R – Não. Provavelmente incluiria um artigo de investigação sobre a pandemia e o reforço do coletivismo que escrevi a convite de um jornal científico internacional. A prevalência histórica de agentes patogénicos e infecciosos, já o sabemos, está na base do coletivismo das sociedades humanas desde o seu início. Dito de outra forma, o sistema imunitário humano tem uma componente biológica e outra comportamental. O fecho dos grupos e a criação de barreiras defensivas face ao perigo de infecções vindas do exterior é algo muito antigo e pode mesmo ter sido uma das variáveis que levou à diversidade linguística pois onde há mais densidade populacional falam-se mais línguas diferentes e não menos e onde a prevalência histórica de doenças infecciosas foi maior prevalecem ainda hoje mais valores coletivistas do que individualistas. Só agora começamos a perceber que a evolução no nosso caso não foi apenas biológica mas também cultural, ou seja foi uma co-evolução gene-cultura. As razões biológicas da própria cultura começam agora a desvendar-se e isso é incómodo para aqueles que defendem a tábua rasa e retiraram o Homem da Natureza.
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Paulo Finuras
Da Natureza das Causas. Psicologia Evolucionista e Biopolítica
Sílabo 17,60€
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