Paul Theroux: Um livro de viagens sem viagem central
CRÓNICA
|Rui Miguel Rocha
Um livro de viagens sem viagem central, um conjunto de ensaios, muitos deles publicados em outros lados em outros tempos. Personagens fictícias e reais nos seus lugares ou fora deles, nas suas reacções e relações. Elisabeth Taylor sempre atrasada “Chefes de Estado, a rainha Isabel II, o papa, os seus amigos mais chegados – ninguém teve o privilégio de a ver chegar a horas”, a dizer que “deixou de haver mamas” em Hollywood, “e, quando as há, são falsas. Quer dizer, topam-se de longe. Tornou-se tudo ligeiramente andrógino. E isso não é muito sexy.” Graham Greene e as múltiplas mulheres, episódios de Hunter S. Thompson que não lia pois “é preciso ter a capacidade de estar quieto para se ser leitor, Joseph Conrad no mar, Simenon que dizia “se vires que tens uma bela frase, corta-a”, também as suas muitas mulheres e as suas 400 obras de ficção escritas. O maravilhoso Oliver Sacks em passeio pelas ruas e hospitais a dizer que “Sherlock Holmes podia ser autista” e que, na opinião de Theroux “parecia não haver nada que ele não soubesse, ou não tivesse visto ou experimentado.” Aliás, todo o capítulo do “Dr. Sacks, o que cura” é muito bom. Também o hiperactivo Robin Williams, a divertida Muriel Spark e o seu ortopedista transexual, o ensaio sobre as mulheres mais velhas, a sua sabedoria e o sexo.
Não é escritor quem pode, aliás “as pessoas com vidas ricas, cheias de oportunidades, não tendem a tornar-se escritoras”, está tudo explicado…
E como os homens velhos são como os novos “continuo a olhar para as mulheres a todo o momento…chumbo umas, passo outras e dou notas altas a umas quantas. É o que fazem os homens em geral sempre que estão acordados.”
E ainda o ensaio sobre o coleccionismo, o complexo de estrela de rock a ajudar África. Muita África, claro, com Stanley, Bowles, Maugham .
E ainda a América de Harper Lee e Truman Capote, “como dizem os do Sul, é preciso ir para lá para lá chegar.”
E por fim, a mãe, o pai, a família e ele próprio: “‘já toda a gente percebeu que pouco se pode acreditar do que as pessoas dizem umas das outras’, escreveu uma vez Rebecca West. ‘Mas nem toda a gente percebeu que ainda se pode confiar menos no que as pessoas dizem de si próprias.’” Mas no fim o que mais conta é que “por mais mal que corresse o dia, um livro esperava-me em casa, e assim continua a ser.”
Pois continua, Paul.
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Paul Theroux
Figuras numa Paisagem-Pessoas e Lugares
Quetzal 24,40€