Patti Smith escrevendo sobre coisa nenhuma

CRÓNICA
|Rui Miguel Rocha

Como escrever sobre coisa nenhuma e sobre tudo ao mesmo tempo? Viver num sonho rodeado de realidade, cafés, pequenos hotéis, viagens e visitas a cemitérios com escritores dentro. “Flores cobrindo os mortos onde eles jazem, como um verso de uma balada popular antiga que narra um assassínio.”
Bolaño e tudo o que ficou para trás “a sua perda e a sua obra não escrita guarda pelo menos um dos segredos do mundo.”
Na Islândia num encontro surreal com Bobby Fischer e a mesa onde ele disputou a final do campeonato do mundo de xadrez contra Boris Spassky em 1972.
Séries de televisão em quartos de hotel (cuidado com os spoilers) adoptando os costumes e pequenos vícios dos detectives do ecrã.
Recordações dos tempos felizes com Fred, saltos no tempo, sonhos onde se encontram no momento em que viviam sem tempo “eu e o Fred não tínhamos uma relação definida com o tempo…vivíamos sem tempo, passando pelos dias e pelas noites sem nos preocuparmos com as horas.” Fora do tempo, nunca escapando à sua passagem, mas fingindo que ele não existe.
Apesar de tudo é um livro cheio de pessoas mas também de solidão, à procura da solução, sabendo-a impossível, mas mesmo assim dirigindo-se “para dentro de um mundo onde não existem problemas, como as crianças gostam.” E nos confrontos de gerações saber que “com o tempo, muitas vezes ficamos como aqueles que em certos momentos da vida não conseguimos compreender.” E como “todos os escritores são vagabundos”, Patti não usa cinto nos aviões pois “detesto estar confinada, especialmente quando é para o meu próprio bem.” Não faz lembrar nada?
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Patti Smith
M Train
Quetzal  18,80€

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