Patrícia Macedo: “Sempre escrevi, sem mostrar a ninguém”

1-Como surgiu a ideia da escrita de livros infantis?
R-Os livros infantis surgem de uma amizade (crescente) com a ilustradora. Como tantos, o meu negócio (uma chocolataria com dez anos) foi muito abalado pela pandemia COVID-19. Há muito que tinha uns textos escritos ao meu pai (sempre escrevi, sem mostrar a ninguém). Com a venda da Casa do Chocolate, terminaram-se os constrangimentos de tempo. Aproveitei os dias livres, e as redes sociais, para falar com o meu pai, publicando em desabafo, alguns, desses mesmos textos. Foi quando, o meu irmão e o meu marido me fizeram uma surpresa, enviando-os, sem eu saber, para o Círculo Católico de Operários de Vila do Conde que, entre outros, é um forte apoiante da edição literária de autores locais. Assim, nasceu “As Histórias que te conto”, um livro intimista, familiar, talvez com pouco interesse literário, mas visceral no que toca àquela saudade que se guarda por tempo indeterminado. Foi tudo muito lindo. Aí, estava Inna. Uma das minhas primeiras clientes na chocolataria. Em conversa, disse-me que, com o confinamento, lhe tinha surgido uma grande vontade de voltar a desenhar. Gostava muito de desenhar um livro infantil, mas não tinha uma história e o português, para ela, russa, era um problema. Eu tinha (e ainda tenho) tantas histórias dentro da minha cabeça, algumas (muitas) já escritas no papel. Daqui, até ao primeiro livro, voámos juntas.

2-Os seus dois primeiros livros combinam muito bem a palavra com a ilustração: como foi o processo criativo?
R-Inicialmente tentámos as editoras, mas, ou nos apareciam editoras “pop-up” onde, se pagássemos, nos editavam o livro, sem qualquer critério de qualidade e com margens muito reduzidas para autores que pagariam os seus próprios livros e, esse, não era, de todo, o nosso objetivo; ou nos apareciam editoras clássicas (que queríamos muito), mas para lá chegar só tendo um nome conhecido no mercado ou prémios literários… Foi quando falámos com um editor experiente (Vladimiro Nunes) que nos explicou esta mecânica e nos aconselhou a avançarmos sozinhas. Assim fizemos, sem qualquer experiência ou expectativa. Enviei o texto de “Nem Leão Nem Tigre” à Inna que, gradualmente, foi fazendo as personagens e as ilustrações “por aberturas” (duas páginas abertas- uma ilustração). Este processo durou um ano, aproximadamente. A Inna, muito pacientemente, foi ajustando os desenhos das personagens à imagem que eu tinha em mente quando as criei. Fazia esboços a lápis no papel que, posteriormente, concluía no IPad. Ela é brilhante. Tem um traço realista, cheio de detalhes que garante, ao mesmo tempo, a inocência da animação infantil. Depois, fechámo-nos uma semana inteira e alinhámos, juntas, o texto com as ilustrações. Encontrámos uma gráfica centenária, na Chamusca, que foi muito nossa amiga. Para além de uma qualidade excecional, A Persistente, ajudou-nos na questão mais prática da edição do livro. “A Rainha de Lisboa” nasce de um processo idêntico, dois anos depois. Foi um período difícil de criação para a Inna por ter rebentado a guerra da Rússia com a Ucrânia. Mas, mesmo mais demorado, o livro surge, na minha opinião, com mais complexidade do que o primeiro. “Nem Leão Nem Tigre” é dirigido a crianças do pré-escolar e primeiro ciclo, já a “Rainha de Lisboa” mais vocacionado ao primeiro e segundo ciclo.

3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R-De momento tenho cinco histórias infantis prontas, mas ainda sem ilustrador. A Inna precisou de um tempo de pausa. Não sei bem qual o passo seguinte. Talvez espere pela Inna (gosto muito de trabalhar com ela) , ou talvez apareça mais alguém que os queira ilustrar. Estou completamente recePtiva. Também tenho outros livros, começados, que gostavam de ser romances, um dia… quem sabe? Há um, que escrevo há dois anos, quase pronto. Falta-me um epílogo. Mas, ainda não sei o que vou fazer com ele.
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Patrícia Macedo
(Ilustrações: Inna Suyunova)
Nem Leão nem Tigre
A Rainha de Lisboa