Patrícia Macedo: “Ser escritora, mesmo de verdade. É um sonho, acordei tarde ou, se calhar, ainda durmo”
Patrícia Macedo nasceu e vive em Vila do Conde. Filha de uma mãe de nove e de um poeta de afetos. Vestiu os caminhos que se foram abrindo. Sem se apaixonar, realmente, por profissão alguma. Num projecto em torno do chocolate, quase conseguiu, mas faltavam-lhe as palavras. Trocou por sonhos o que lhe tirava o sono. Despiu os primeiros caminhos, mas não os perdeu. Usou-os para vestir estes que agora segue. Tem um livro publicado com o apoio do Círculo Católico de Operários de Vila do Conde: As Histórias que te Conto. A infância, como oitava irmã, como tia de muitos sobrinhos (quase da mesma idade), muniu-a de criatividade e histórias por contar, mas para serem contadas. Histórias que ganharam maior volume quando experimentou a maternidade: os filhos (Hugo e João) foram a inspiração certa.
Nem Leão nem Tigre e A Rainha de Lisboa são os seus dois últimos livros publicados e destinados aos leitores mais novos.
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O que é para si a felicidade absoluta?
Não acredito nesse absolutismo. Acredito na felicidade dos instantes, que pode ser: olhar para os meus filhos a dormir (ainda hoje o faço, já adultos); mergulhar pão fresco com marmelada dentro de uma meia de leite, logo pela manhã; mergulhar no mar e sentir o sol na cara; tocar na ponta do pé do meu marido durante toda a noite e durante 26 anos; ouvir a voz do meu pai na minha cabeça (ou numa gravação); olhar para a minha mãe na fotografia da minha sala, de onde ela me fita, ainda tão viva. Estar com os meus irmãos, só estar. Resumindo, escolho o amor para ser feliz.
Qual considera ser o seu maior feito?
Os meus filhos, um cliché, mas é o que é.
Qual a sua maior extravagância?
São sempre pequenos prazeres: a tal meia de leite, direta e morna, e o pão com marmelada lá dentro; cinema, música, livros, não me limito, vejo tudo, ouço tudo, leio tudo, adoro, por isso, exagero; viajar para destinos diferentes, sempre que posso, vou!
Qual o traço principal do seu carácter?
Sou feita de gostar de pessoas, abraço muito, gosto muito, dou-me muito, mas depois gosto de equilíbrio, bom senso, humor e criatividade. Moldo-me ao que me aparece.
O seu pior defeito?
A preguiça, acho que me deixo ficar demais…
Qual a sua maior mágoa?
A perda de pessoas: Pai, irmã e, recentemente, mãe
Qual o seu maior sonho?
Ser escritora, mesmo de verdade. É um sonho, acordei tarde ou, se calhar, ainda durmo.
Qual o dia mais feliz da sua vida?
(Ó pá) Não tenho um, tenho quatro: o dia do meu casamento, o nascimento do Hugo, o nascimento do João e um livro – que Eu escrevi – na minha mão.
Qual a sua máxima preferida?
Bom senso, muito amor e muita família junta. Não há nada que um bom abraço não apazigue, ainda que não resolva, acalma, e às vezes resolve mesmo. Sou, e serei sempre, pela liberdade e pela paz.
Onde (e como) gostaria de viver?
Vivo, onde e como, sempre quis viver. Sou bairrista por Vila do Conde. Tenho praia e mar ao pé de casa. Sou daqui. Morrerei aqui.
Qual a sua cor preferida?
Azul
Qual a sua flor preferida?
Jarros brancos
O animal que mais simpatia lhe merece?
São dois! Não posso escolher entre a minha cadela Arya e o meu gato Toninho, não posso. Daqueles que não se podem ter por casa: golfinhos!
Que compositores prefere?
Aqui a lista seria tão extensa. Vou tentar. Sou demasiado eclética na música, desde que a letra, ou a melodia me cheguem ao coração. Ouço: Bach, Sting, Zambujo, Rui Veloso, Waterboys, Rodrigo Leão, Imagine Dragons, Carminho… e sinto-me uma infiel por deixar outros tantos de fora.
Pintores de eleição?
Monet, Frida Khalo, Da Vinci, Miguel Ângelo …
Quais são os seus escritores favoritos?
Tantos… Leio muito Autores portugueses: Saramago, Gonçalo M Tavares, Afonso Cruz, Jose Luís Peixoto, Hugo Mãe, José Eduardo Agualusa, Zimler, Lobo Antunes. Dos Clássicos: Pessoa, Miguel Torga e Eça de Queiroz. E depois há a Clarice Lispector. Ainda: Hemingway, Tolstói, Orwell
Quais os poetas da sua eleição?
Fernando Pessoa, José Régio, Antero de Quental, Agustina Bessa Luís, Sophia de Mello Breyner
O que mais aprecia nos seus amigos?
A entrega. A amizade é por si uma qualidade, a maior.
Quais são os seus heróis?
Era o meu pai. Hoje, não acredito muito em heróis. Nem gosto muito de heróis, gosto de gente capaz. Gosto que se façam as coisas que parecem heroicas com normalidade. Quando se elevam a heroísmos, desculpabilizam-se as maldades, se só os heróis são capazes de gestos de bondade…
Quais são os seus heróis prediletos na ficção?
Na ficção, é outra história, tenho alguns: A Super-Mulher (aquela dos anos oitenta que rodava e se transformava, o que eu sonhava); a Sininho do Peter Pan, porque voa; Arya, de Game of Thrones ; Scarlett O’Hara…
Qual a sua personagem histórica favorita?
William Wallace, Óscar Shindler, Joana d,Arc
E qual é a sua personagem favorita na vida real?
Mandela, Ghandi … Depois há o Herman José e o Ricardo Araújo Pereira 😊
Que qualidade(s) mais aprecia num homem?
Inteligência, humor e altruísmo
E numa mulher?
Honestidade, sensibilidade
Que dom da natureza gostaria de possuir?
Voar. Pelo ar e pelo pensamento dos outros.
O que é para si o cúmulo da miséria?
A Fome e a ignorância
Quais as falhas para que tem maior indulgência?
As que não comprometam a vida, ou a liberdade, ou a integridade física e mental de alguém. Talvez a curiosidade em excesso, talvez a pontualidade, ou a falta dela.
Qual é para si a maior virtude?
Altruísmo e verdade
Como gostaria de morrer?
A dormir e a sonhar que não morria. Entre os meus, em casa.
Se pudesse escolher como regressar, quem gostaria de ser?
O meu pai, acho que os meus irmãos iam gostar de o rever. Eu gostava.
Qual é o seu lema de vida?
Quando um dia me faltar a vida que me restem as palavras. Assim me prolongo. Cada vez mais, reter aqueles pequenos momentos que são tudo o que temos. Procurar a felicidade em tudo.
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Patrícia Macedo na “Novos Livros” | Entrevistas