Patrícia Carvalho | Portugueses nos Campos de Concentração Nazis
1.-Qual foi a ideia que esteve na origem deste livro
“Portugueses nos Campos de Concentração Nazis”?
“Portugueses nos Campos de Concentração Nazis”?
R- O livro nasceu de uma reportagem publicada em 2014 no
jornal Público e a reportagem nasceu de uma pergunta que ficou a pairar na
minha cabeça depois de uma visita a Auschwitz: será que durante a Segunda
Guerra Mundial não teriam existido portugueses internados nos campos de
concentração? Já se sabia, já se estudara e já se escrevera sobre os judeus de
ascendência portuguesa que tinham sido enviados para os campos, mas
interessava-me perceber se o mesmo destino tinha afectado pessoas nascidas em
Portugal. Hoje não restam dúvidas que existiram portugueses nessas
circunstâncias, e não apenas um ou outro caso isolado, mas dezenas de cidadãos
nacionais.
jornal Público e a reportagem nasceu de uma pergunta que ficou a pairar na
minha cabeça depois de uma visita a Auschwitz: será que durante a Segunda
Guerra Mundial não teriam existido portugueses internados nos campos de
concentração? Já se sabia, já se estudara e já se escrevera sobre os judeus de
ascendência portuguesa que tinham sido enviados para os campos, mas
interessava-me perceber se o mesmo destino tinha afectado pessoas nascidas em
Portugal. Hoje não restam dúvidas que existiram portugueses nessas
circunstâncias, e não apenas um ou outro caso isolado, mas dezenas de cidadãos
nacionais.
2.-No contexto da investigação realizada, que factos mais a
surpreenderam?
surpreenderam?
R O que mais me surpreendeu, à medida que ia encontrando as
histórias destes portugueses, não foi tanto cada história em si, mas o facto de
ter sido possível que só agora se tenha tratado esta questão como um tema em si
mesmo, um tema suficientemente interessante para ser tratado de forma isolada.
Como já disse, a temática dos judeus de ascendência portuguesa tinha sido já
amplamente tratada e algumas referências à existência de cidadãos nascidos em
Portugal nos campos de concentração também fora feita, mas ainda não tinha
havido uma investigação alargada sobre quem eram estas pessoas, quantas tinham
sido feitas prisioneiras e em que circunstâncias é que tinham sido envidas para
os campos. Dito isto, todas as histórias que consegui encontrar são muito
diferentes – há pessoas apanhadas por acaso, outras envolvidas com a
Resistência e também judeus, nascidos em Lisboa – e todas são muito tocantes.
Julgo que a percepção que os campos deixaram marcas para sempre, tanto nos
deportados como nos familiares dos que sobreviveram e dos que morreram, é um
dos aspectos mais importantes do livro, porque nos ajuda a perceber que ninguém
sai incólume de um regime assente no ódio, no medo e na violência exacerbada,
como era o de Adolf Hitler.
histórias destes portugueses, não foi tanto cada história em si, mas o facto de
ter sido possível que só agora se tenha tratado esta questão como um tema em si
mesmo, um tema suficientemente interessante para ser tratado de forma isolada.
Como já disse, a temática dos judeus de ascendência portuguesa tinha sido já
amplamente tratada e algumas referências à existência de cidadãos nascidos em
Portugal nos campos de concentração também fora feita, mas ainda não tinha
havido uma investigação alargada sobre quem eram estas pessoas, quantas tinham
sido feitas prisioneiras e em que circunstâncias é que tinham sido envidas para
os campos. Dito isto, todas as histórias que consegui encontrar são muito
diferentes – há pessoas apanhadas por acaso, outras envolvidas com a
Resistência e também judeus, nascidos em Lisboa – e todas são muito tocantes.
Julgo que a percepção que os campos deixaram marcas para sempre, tanto nos
deportados como nos familiares dos que sobreviveram e dos que morreram, é um
dos aspectos mais importantes do livro, porque nos ajuda a perceber que ninguém
sai incólume de um regime assente no ódio, no medo e na violência exacerbada,
como era o de Adolf Hitler.
3.-O seu livro é inovador pois conta histórias invulgares:
será um tema apenas desconhecido ou deliberadamente escondido?
será um tema apenas desconhecido ou deliberadamente escondido?
R- Essa é uma excelente questão à qual não consigo responder
de forma definitiva. Quando entrevistei o historiador Fernando Rosas para a
reportagem que deu origem ao livro ele dizia que o tema não tinha sido ainda
tratado por uma conjugação de factores – o facto de o regime de António de
Oliveira Salazar não estar interessado em que se falasse sobre qualquer tema
relacionado com a Segunda Guerra Mundial e qualquer papel menos conhecido que
Portugal pudesse ter tido nela, e também a dificuldade no acesso a fontes de
informação e o facto de o estudo da História Contemporânea ser algo ainda
relativamente recente por cá. Julgo que todos estes factores tiveram o seu
peso. Além disso, nos telegramas trocados entre Lisboa e as representações
nacionais em França e na Alemanha, durante a guerra, não há referência a
deportações para campos de concentração. Fala-se em detenções, em incorporação
no trabalho forçado, mas não em campos de concentração. Será que o Governo de
Salazar não sabia? Será que não acreditava que os cidadãos de um país neutro,
como o nosso era, pudessem estar a receber o mesmo tratamento que os outros? Ou
será que o regime preferia não mexer num assunto que, no entender do Governo
português, poderia estar a afectar apenas opositores do regime do próprio
Salazar (comunistas e resistentes)? Acho que ainda é cedo para darmos uma
resposta definitiva a esta pergunta.
de forma definitiva. Quando entrevistei o historiador Fernando Rosas para a
reportagem que deu origem ao livro ele dizia que o tema não tinha sido ainda
tratado por uma conjugação de factores – o facto de o regime de António de
Oliveira Salazar não estar interessado em que se falasse sobre qualquer tema
relacionado com a Segunda Guerra Mundial e qualquer papel menos conhecido que
Portugal pudesse ter tido nela, e também a dificuldade no acesso a fontes de
informação e o facto de o estudo da História Contemporânea ser algo ainda
relativamente recente por cá. Julgo que todos estes factores tiveram o seu
peso. Além disso, nos telegramas trocados entre Lisboa e as representações
nacionais em França e na Alemanha, durante a guerra, não há referência a
deportações para campos de concentração. Fala-se em detenções, em incorporação
no trabalho forçado, mas não em campos de concentração. Será que o Governo de
Salazar não sabia? Será que não acreditava que os cidadãos de um país neutro,
como o nosso era, pudessem estar a receber o mesmo tratamento que os outros? Ou
será que o regime preferia não mexer num assunto que, no entender do Governo
português, poderia estar a afectar apenas opositores do regime do próprio
Salazar (comunistas e resistentes)? Acho que ainda é cedo para darmos uma
resposta definitiva a esta pergunta.
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Patrícia Carvalho
Portugueses nos Campos de Concentração Nazis
Vogais, 16,99€
Vogais, 16,99€