Onde estava no dia 16 de Março de 2020?
Esta é uma crónica sobre o primeiro confinamento que decorreu de 16 de março a meados de junho de 2020, e que foi talvez o mais marcante até ao momento, já que não tínhamos memórias anteriores de uma necessidade tão brusca de mudança de hábitos quotidianos provocados por uma emergência de saúde à escala mundial.
Escrito em forma de diário, a primeira entrada data de quarta-feira, 11 de março e a última de segunda-feira, 18 de Maio de 2020, finalizando-se com “Uma espécie de epílogo: meados de junho”, já em tom cansado e na expetativa de chegar ao fim. Esse mesmo fim que, ainda hoje, todos ansiamos.
Pelo meio, acompanhamos o quotidiano do autor, a forma como faz a gestão das suas emoções e como continua a dar aulas. Estes textos fazem-nos, por isso, reviver os meses do primeiro confinamento de 2020, num quase permanente paralelismo com as vivências de Paulo Guinote.“Quando as escolas fecharam- Cadernos da pandemia” é um pequeno livro que relembra no prólogo que “um daqueles chavões de uso corrente é o de que só damos verdadeiramente pela falta de algo quando deixamos de o ter”.Todos sentimos isso, de um modo ou de outro, na decorrência do contexto pandémico que vivemos. Neste caso, o autor refere-se às escolas, como a larga maioria da população em idade adulta deixa lá os seus filhos para depois os recolher no final do dia de aulas. Elas são um dado adquirido, estão lá e funcionam. Simultaneamente, este livro é como uma janela para a vivência de um indivíduo e da sua família, dos seus desafios pessoais e profissionais, do modo resiliente como se foi adaptando, revelando a sua atitude racional e mente crítica, equilibrada pela sensibilidade de pai, marido e colega. Este é um título que pertence à coleção “Retratos” da Fundação Francisco Manuel dos Santos, a qual pretende trazer aos leitores “um olhar próximo sobre a realidade do país. Portugal contado e vivido, narrado por quem o viu – e vê – de perto”. Com este pequeno, mas poderoso, livro essa missão foi totalmente cumprida. Trata-se de um registo importante de um período ainda tão recente e que decerto vai ganhar estatuto documental à medida que o tempo passa. A este confinamento seguiu-se o de janeiro do corrente ano, 2021, quando as escolas voltaram a fechar. Ficamos curiosos por saber se também foram feitos registos e quão diferentes serão dos que lemos nesta interessante obra?
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Paulo Guinote
Quando as Escolas Fecharam- Cadernos da Pandemia
Fundação Francisco Manuel dos Santos 3,50€/5€ (capa dura)