Olga Pombo | Da Civilização da Palavra à Civilização da Imagem

1. De que trata este seu livro “Da Civilização da
Palavra à Civilização da Imagem”?
R- Justamente daquilo que o titulo procura enunciar –Da
Civilização da Palavra à Civilização da Imagem-
mas de forma interrogativa.
Estaremos de facto a abandonar a civilização da escrita e a passar para a
civilização da imagem? Será que essa passagem pode ou deve ser pensada à luz
daquela outra que se operou entre uma primordial civilização da voz e a
invenção da escrita? Que pode significar estarmos a entrar num mundo icónico,
fundado em regimes visuais de pensamento e comunicação? E, posto que aceitemos
estar já no interior de uma nova configuração civilizacional, em que consiste o
papel que a imagem aí é chamada a desempenhar? Qual o destino da escrita face à
dita supremacia da imagem? De que forma determina ela a nossa vida e a nossa
forma de estar o mundo? Qual o seu estatuto cognitivo? Que efeitos tem a imagem
sobre o nosso conhecimento do mundo? Em limite, o que é isso de uma imagem?
Será ela uma mera aparição, uma simples mediadora, efémera e evanescente,
destinada a desaparecer face à presença soberana do conceito? Ou, pelo
contrário, ela é uma apresentação sensível autónoma, um condensado de sentidos
e horizontes de possibilidade que só nela se dá a ver?
2. O livro tem origem num colóquio internacional: quais as
principais ideias apresentadas que foram acolhidas nesta obra?
R- Como seria de esperar, o colóquio ofereceu diversas
entradas ao tema proposto. Não apenas porque todos os colóquios o fazem (é para
isso que se fazem colóquios) mas porque, em si mesma, a imagem é um objecto
indisciplinado, que se situa no cruzamento de diversos territórios. Filosofia,
Iconografia, História da Arte, Sociologia, História das Religiões, Semiologia,
Estética, Antropologia, são hoje formas de aproximação a essa entidade
enigmática que é uma imagem. Neste livro reúnem-se quinze estudos que pretendem
questionar a natureza da imagem reclamando-se de diversas heranças teóricas:
Platão, Aby Warburg, McLuhan, Ranciere, Deleuze. Alguns dos estudos aqui
apresentados reenviam à experiencia da arte (é o caso da pintura de Kandinsly e
do teatro de Beckett). Outros constroem-se com base no reconhecimento da
sabedoria da escrita (dos caligramas de Apollinaire aos diagramas de Peirce, da
meditação sobre o oralismo e a escrita de Havelock à teoria da imagem
tardo-escolástica do jesuíta português do século XVII Agostinho Lourenço).
Outros, ainda, trazem consigo os segredos da memória (Aby Warburg) ou remetem
para o horizonte das novas tecnologias da imagem, quer para estudar a mitologia
contemporânea que ela desencadeia, quer para interrogar o alcance da
imagiologia cerebral de que estamos nos rodeados, quer ainda para escutar um
dos maiores teóricos das imagens técnicas (Vilém Flusser).
3. Imagem-Palavra: que civilização é esta em que nos
estamos  a transformar?
R- Ninguém sabe responder a essa pergunta. O futuro está
fechado. Mas há vários palpites. E sensibilidades. Entre os catastrofistas que
anunciam o advento de uma nova barbárie e os optimistas que exaltam as
virtualidades múltiplas das novas tecnologias e do ciberespaço, estaremos
porventura a caminhar para sociedades icónicas nas quais os humanos aprendem a
pensar e comunicar de forma cada vez mais diagramática, imagética, pictural
enquanto que, ao seu lado, se desenvolvem agentes artificiais, computorizados,
digitalizadas, também eles operando em regimes visuais de comunicação.
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Olga Pombo/António Guerreiro (org.)
Da Civilização da Palavra à Civilização da Imagem
Fim de Século, 25€