Olga Pombo | Da Civilização da Palavra à Civilização da Imagem
1. De que trata este seu livro “Da Civilização da
Palavra à Civilização da Imagem”?
Palavra à Civilização da Imagem”?
R- Justamente daquilo que o titulo procura enunciar –Da
Civilização da Palavra à Civilização da Imagem- mas de forma interrogativa.
Estaremos de facto a abandonar a civilização da escrita e a passar para a
civilização da imagem? Será que essa passagem pode ou deve ser pensada à luz
daquela outra que se operou entre uma primordial civilização da voz e a
invenção da escrita? Que pode significar estarmos a entrar num mundo icónico,
fundado em regimes visuais de pensamento e comunicação? E, posto que aceitemos
estar já no interior de uma nova configuração civilizacional, em que consiste o
papel que a imagem aí é chamada a desempenhar? Qual o destino da escrita face à
dita supremacia da imagem? De que forma determina ela a nossa vida e a nossa
forma de estar o mundo? Qual o seu estatuto cognitivo? Que efeitos tem a imagem
sobre o nosso conhecimento do mundo? Em limite, o que é isso de uma imagem?
Será ela uma mera aparição, uma simples mediadora, efémera e evanescente,
destinada a desaparecer face à presença soberana do conceito? Ou, pelo
contrário, ela é uma apresentação sensível autónoma, um condensado de sentidos
e horizontes de possibilidade que só nela se dá a ver?
Civilização da Palavra à Civilização da Imagem- mas de forma interrogativa.
Estaremos de facto a abandonar a civilização da escrita e a passar para a
civilização da imagem? Será que essa passagem pode ou deve ser pensada à luz
daquela outra que se operou entre uma primordial civilização da voz e a
invenção da escrita? Que pode significar estarmos a entrar num mundo icónico,
fundado em regimes visuais de pensamento e comunicação? E, posto que aceitemos
estar já no interior de uma nova configuração civilizacional, em que consiste o
papel que a imagem aí é chamada a desempenhar? Qual o destino da escrita face à
dita supremacia da imagem? De que forma determina ela a nossa vida e a nossa
forma de estar o mundo? Qual o seu estatuto cognitivo? Que efeitos tem a imagem
sobre o nosso conhecimento do mundo? Em limite, o que é isso de uma imagem?
Será ela uma mera aparição, uma simples mediadora, efémera e evanescente,
destinada a desaparecer face à presença soberana do conceito? Ou, pelo
contrário, ela é uma apresentação sensível autónoma, um condensado de sentidos
e horizontes de possibilidade que só nela se dá a ver?
2. O livro tem origem num colóquio internacional: quais as
principais ideias apresentadas que foram acolhidas nesta obra?
principais ideias apresentadas que foram acolhidas nesta obra?
R- Como seria de esperar, o colóquio ofereceu diversas
entradas ao tema proposto. Não apenas porque todos os colóquios o fazem (é para
isso que se fazem colóquios) mas porque, em si mesma, a imagem é um objecto
indisciplinado, que se situa no cruzamento de diversos territórios. Filosofia,
Iconografia, História da Arte, Sociologia, História das Religiões, Semiologia,
Estética, Antropologia, são hoje formas de aproximação a essa entidade
enigmática que é uma imagem. Neste livro reúnem-se quinze estudos que pretendem
questionar a natureza da imagem reclamando-se de diversas heranças teóricas:
Platão, Aby Warburg, McLuhan, Ranciere, Deleuze. Alguns dos estudos aqui
apresentados reenviam à experiencia da arte (é o caso da pintura de Kandinsly e
do teatro de Beckett). Outros constroem-se com base no reconhecimento da
sabedoria da escrita (dos caligramas de Apollinaire aos diagramas de Peirce, da
meditação sobre o oralismo e a escrita de Havelock à teoria da imagem
tardo-escolástica do jesuíta português do século XVII Agostinho Lourenço).
Outros, ainda, trazem consigo os segredos da memória (Aby Warburg) ou remetem
para o horizonte das novas tecnologias da imagem, quer para estudar a mitologia
contemporânea que ela desencadeia, quer para interrogar o alcance da
imagiologia cerebral de que estamos nos rodeados, quer ainda para escutar um
dos maiores teóricos das imagens técnicas (Vilém Flusser).
entradas ao tema proposto. Não apenas porque todos os colóquios o fazem (é para
isso que se fazem colóquios) mas porque, em si mesma, a imagem é um objecto
indisciplinado, que se situa no cruzamento de diversos territórios. Filosofia,
Iconografia, História da Arte, Sociologia, História das Religiões, Semiologia,
Estética, Antropologia, são hoje formas de aproximação a essa entidade
enigmática que é uma imagem. Neste livro reúnem-se quinze estudos que pretendem
questionar a natureza da imagem reclamando-se de diversas heranças teóricas:
Platão, Aby Warburg, McLuhan, Ranciere, Deleuze. Alguns dos estudos aqui
apresentados reenviam à experiencia da arte (é o caso da pintura de Kandinsly e
do teatro de Beckett). Outros constroem-se com base no reconhecimento da
sabedoria da escrita (dos caligramas de Apollinaire aos diagramas de Peirce, da
meditação sobre o oralismo e a escrita de Havelock à teoria da imagem
tardo-escolástica do jesuíta português do século XVII Agostinho Lourenço).
Outros, ainda, trazem consigo os segredos da memória (Aby Warburg) ou remetem
para o horizonte das novas tecnologias da imagem, quer para estudar a mitologia
contemporânea que ela desencadeia, quer para interrogar o alcance da
imagiologia cerebral de que estamos nos rodeados, quer ainda para escutar um
dos maiores teóricos das imagens técnicas (Vilém Flusser).
3. Imagem-Palavra: que civilização é esta em que nos
estamos a transformar?
estamos a transformar?
R- Ninguém sabe responder a essa pergunta. O futuro está
fechado. Mas há vários palpites. E sensibilidades. Entre os catastrofistas que
anunciam o advento de uma nova barbárie e os optimistas que exaltam as
virtualidades múltiplas das novas tecnologias e do ciberespaço, estaremos
porventura a caminhar para sociedades icónicas nas quais os humanos aprendem a
pensar e comunicar de forma cada vez mais diagramática, imagética, pictural
enquanto que, ao seu lado, se desenvolvem agentes artificiais, computorizados,
digitalizadas, também eles operando em regimes visuais de comunicação.
fechado. Mas há vários palpites. E sensibilidades. Entre os catastrofistas que
anunciam o advento de uma nova barbárie e os optimistas que exaltam as
virtualidades múltiplas das novas tecnologias e do ciberespaço, estaremos
porventura a caminhar para sociedades icónicas nas quais os humanos aprendem a
pensar e comunicar de forma cada vez mais diagramática, imagética, pictural
enquanto que, ao seu lado, se desenvolvem agentes artificiais, computorizados,
digitalizadas, também eles operando em regimes visuais de comunicação.
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Olga Pombo/António Guerreiro (org.)
Da Civilização da Palavra à Civilização da Imagem
Fim de Século, 25€