O perigo da austeridade
Que a austeridade é uma ideia
perigosa sabem-no praticamente todos os cidadãos, especialmente os do sul da
Europa – Portugal incluído. Sabem-no da forma mais dolorosa: sentem na pele a
pobreza, a exclusão, o desemprego, a precariedade, as arbitrariedades de
governos e patrões.
perigosa sabem-no praticamente todos os cidadãos, especialmente os do sul da
Europa – Portugal incluído. Sabem-no da forma mais dolorosa: sentem na pele a
pobreza, a exclusão, o desemprego, a precariedade, as arbitrariedades de
governos e patrões.
Mas muitos, na angústia da
sobrevivência e na confusão de não perceberem o que de repente aconteceu às
suas vidas, ignoram as causas por detrás das justificações ideológicas e dos
interesses económicos da austeridade. Pouco conseguem perceber além da
argumentação de políticos e opinadores do regime com que são bombardeados
diariamente.
sobrevivência e na confusão de não perceberem o que de repente aconteceu às
suas vidas, ignoram as causas por detrás das justificações ideológicas e dos
interesses económicos da austeridade. Pouco conseguem perceber além da
argumentação de políticos e opinadores do regime com que são bombardeados
diariamente.
É por isso que o livro de Mark Blyth
“Austeridade – A história de uma ideia perigosa” é tão importante na
desmistificação das ideias dominantes, demonstrando de forma clara como uma
crise bancária se transformou numa crise económica com efeitos sociais
devastadores. “A razão disso é, em parte, ideológica. Mas, por outro lado, a
razão por que essas ideias são tão poderosas é muito material”, defende o autor
logo no prefácio.
“Austeridade – A história de uma ideia perigosa” é tão importante na
desmistificação das ideias dominantes, demonstrando de forma clara como uma
crise bancária se transformou numa crise económica com efeitos sociais
devastadores. “A razão disso é, em parte, ideológica. Mas, por outro lado, a
razão por que essas ideias são tão poderosas é muito material”, defende o autor
logo no prefácio.
Professor
de Economia Política no Departamento de Ciência Política da Universidade de
Brown, uma das universidades da Ivy League norte-americana, Mark Blyth é um acérrimo defensor do Estado
social, assumindo-se como produto da Providência: nunca passou fome graças às
refeições gratuitas da escola e nunca lhe faltou abrigo devido à habitação
social. “O que possibilitou que me tornasse o homem que sou hoje foi exatamente
aquilo a que hoje se atribui a culpa de ter criado a crise: o Estado, mais
especificamente, o chamado Estado-Providência irrealista, demasiado grande,
paternalista e fora do controlo.”
Para este professor, as políticas que têm sido seguidas por toda a Europa tornam
a sociedade profundamente desigual, sendo os que obtêm menores rendimentos e se
encontram no fundo da tabela os primeiros – e únicos – a pagar a crise.
Ao longo de cerca de
três centenas e meia de páginas, Mark Blyth desfia a história da
austeridade, de 1692 à atualidade. O livro pode ser lido por módulos consoante
o interesse de cada um: o primeiro capítulo traça uma visão geral do que está a
acontecer; os dois seguintes explicam o rebentar da crise nos EUA e as
consequências na Europa; os capítulos quatro e cinco debruçam-se sobre o conceito
de austeridade, uma “boa ideia” para uma certa linhagem intelectual, e o último
esclarece por que a austeridade é uma ideia perigosa.
de Economia Política no Departamento de Ciência Política da Universidade de
Brown, uma das universidades da Ivy League norte-americana, Mark Blyth é um acérrimo defensor do Estado
social, assumindo-se como produto da Providência: nunca passou fome graças às
refeições gratuitas da escola e nunca lhe faltou abrigo devido à habitação
social. “O que possibilitou que me tornasse o homem que sou hoje foi exatamente
aquilo a que hoje se atribui a culpa de ter criado a crise: o Estado, mais
especificamente, o chamado Estado-Providência irrealista, demasiado grande,
paternalista e fora do controlo.”
Para este professor, as políticas que têm sido seguidas por toda a Europa tornam
a sociedade profundamente desigual, sendo os que obtêm menores rendimentos e se
encontram no fundo da tabela os primeiros – e únicos – a pagar a crise.
Ao longo de cerca de
três centenas e meia de páginas, Mark Blyth desfia a história da
austeridade, de 1692 à atualidade. O livro pode ser lido por módulos consoante
o interesse de cada um: o primeiro capítulo traça uma visão geral do que está a
acontecer; os dois seguintes explicam o rebentar da crise nos EUA e as
consequências na Europa; os capítulos quatro e cinco debruçam-se sobre o conceito
de austeridade, uma “boa ideia” para uma certa linhagem intelectual, e o último
esclarece por que a austeridade é uma ideia perigosa.
São três
as razões que explicam por que a austeridade se torna uma ideia tão perigosa. A
primeira é porque “pura e simplesmente, não funciona”, nas palavras do autor
galês. Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha lançaram pacotes de
austeridade desde que a crise os atingiu, em 2008, confiantes de que os cortes
orçamentais trariam a confiança dos mercados e, consequentemente, o crescimento
económico. Como todos sabemos, o resultado foi inverso: a dívida aumentou e os
juros dispararam.
as razões que explicam por que a austeridade se torna uma ideia tão perigosa. A
primeira é porque “pura e simplesmente, não funciona”, nas palavras do autor
galês. Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha lançaram pacotes de
austeridade desde que a crise os atingiu, em 2008, confiantes de que os cortes
orçamentais trariam a confiança dos mercados e, consequentemente, o crescimento
económico. Como todos sabemos, o resultado foi inverso: a dívida aumentou e os
juros dispararam.
Este tipo
de políticas faz com que os mais pobres da sociedade paguem pelos erros dos
mais ricos, sendo uma forma de dar maior poder e riqueza a estes últimos – e
essa é a segunda razão.
de políticas faz com que os mais pobres da sociedade paguem pelos erros dos
mais ricos, sendo uma forma de dar maior poder e riqueza a estes últimos – e
essa é a segunda razão.
No início
de 2010, o G20 apelou à chamada “consolidação fiscal amiga do crescimento”,
teoria que Mark Blyth considera uma enorme ficção, pois retira serviços
públicos a quem mais deles preciso, ao mesmo tempo que os obriga a pagar a
crise que não criaram – isentando de sacrifícios os do topo dos rendimentos.
de 2010, o G20 apelou à chamada “consolidação fiscal amiga do crescimento”,
teoria que Mark Blyth considera uma enorme ficção, pois retira serviços
públicos a quem mais deles preciso, ao mesmo tempo que os obriga a pagar a
crise que não criaram – isentando de sacrifícios os do topo dos rendimentos.
Em termos
globais, o problema torna-se mais grave quando todos os Estados aplicam em simultâneo
medidas de austeridade, contraindo a economia: o PIB diminui, aumentando a
diferença para a dívida. Eis o terceiro problema que torna a austeridade uma
ideia perigosa.
globais, o problema torna-se mais grave quando todos os Estados aplicam em simultâneo
medidas de austeridade, contraindo a economia: o PIB diminui, aumentando a
diferença para a dívida. Eis o terceiro problema que torna a austeridade uma
ideia perigosa.
Mark Blyth
defende que a origem da crise foi o sistema
bancário dos EUA, considerado pelo governo norte-americano “demasiado grande
para falir” e por isso resgatado pela Fed, transformada num “banco tóxico”
enquanto as finanças públicas afundavam devido às receitas perdidas em
resultado do crash com despesa
deficitária e emissão de dívida.
defende que a origem da crise foi o sistema
bancário dos EUA, considerado pelo governo norte-americano “demasiado grande
para falir” e por isso resgatado pela Fed, transformada num “banco tóxico”
enquanto as finanças públicas afundavam devido às receitas perdidas em
resultado do crash com despesa
deficitária e emissão de dívida.
Num mundo
global, a crise rapidamente chegou à Europa, onde os maiores bancos dos países
centrais tinham comprado enormes quantidades de dívida soberana periférica,
alavancando-se – e tornando-se “demasiado grandes para resgatar”.
global, a crise rapidamente chegou à Europa, onde os maiores bancos dos países
centrais tinham comprado enormes quantidades de dívida soberana periférica,
alavancando-se – e tornando-se “demasiado grandes para resgatar”.
Ao problema
criado pelos bancos juntou-se o moralismo ideológico dos políticos, dando
origem à “falácia da crise da dívida soberana”.
criado pelos bancos juntou-se o moralismo ideológico dos políticos, dando
origem à “falácia da crise da dívida soberana”.
Ou seja, os
bancos acumularam dívidas astronómicas e forçaram os respetivos países a
acorrerem em seu auxílio: o resgate fomentou a dívida e esta à austeridade. O
autor sustenta assim que a atual crise não foi gerada por gastos excessivos, é
sim o preço da salvação dos bancos.
bancos acumularam dívidas astronómicas e forçaram os respetivos países a
acorrerem em seu auxílio: o resgate fomentou a dívida e esta à austeridade. O
autor sustenta assim que a atual crise não foi gerada por gastos excessivos, é
sim o preço da salvação dos bancos.
Por isso,
afiança Mark Blyth, grande parte da solução da crise passa pelo investimento e
não pela redução da despesa pública a todo o custo.
afiança Mark Blyth, grande parte da solução da crise passa pelo investimento e
não pela redução da despesa pública a todo o custo.
Um livro
indispensável para quem pretende outras explicações além das oficiais.
indispensável para quem pretende outras explicações além das oficiais.
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Mark Blyth
Austeridade – A História de uma Ideia Perigosa
Quetzal, 18,80€