O Pantagruel papa-léguas
O “Livro de Pantagruel” foi o veículo de divulgação do nome do herói criado por François Rabelais no século XVI. Trata-se de uma obra de culinária publicada em 1946 e que viria a ter reedições sucessivas, um êxito editorial talvez nunca repetido em Portugal. A tal ponto que continua a ser procurado, como manual de qualidade, imune a modas e disparates (ou talvez por isso). A primeira edição ter-se-á esgotado em apenas 34 dias…
A autora do “Livro de Pantagruel”, Bertha Rosa Limpo, iniciou a publicação, após estudo, atenção e busca de conselhos dos profissionais que adregava conhecer. Os filhos, Maria Manuela Limpo Caetano e Jorge Brum do Canto cedo começaram a acompanhar Bertha nas diligências que conduziriam à escrita do livro.
Maria Manuela, que após a morte do irmão Jorge garantiu a actualização e reedição de “O Livro de Pantagruel”, volta agora às lides, com uma nova obra, “O Livro de Pantagruel de Garfo e Faca à Volta do Mundo”, coadjuvada pelos seus dois filhos, Maria João Caetano e Nuno Alves Caetano. A terceira geração mantém o ADN da gastronomia em pleno…
«A primeira viagem que fiz teve como destino Itália, no longínquo ano de 1929», recorda Maria Manuel Rosa Limpo, assinalando que «se a cozinha já tinha influência em mim, após esta viagem, de estadia relativamente prolongada, a mesma acentuou-se fortemente pois diariamente habituei-me a ver a Mãe solicitar aos cozinheiros que lhe ensinassem truques e lhe confidenciassem as suas receitas».
A obra agora publicada é o fruto das muitas viagens de Maria Manuela Limpo Caetano durante os seus quase 90 anos de vida. «Tive o privilégio de viajar pelos cinco continentes e, seguindo o exemplo materno, ir recolhendo receitas que fui compilando ao longo dos anos», explica a autora.
Objectivo enunciado: «É uma viagem culinária à volta do mundo, tendo tido a preocupação de seleccionar receitas exequíveis em Portugal e aquelas que me pareceram mais do gosto dos portugueses e acessíveis a qualquer bolsa.»
A estrutura da obra é óbvia, com soluções geográficas próprias e actualizadas, especificando mesmo os hábitos culinários de «novos» países, como sucede, para a Europa, com as duas repúblicas resultantes da antiga Checoslováquia – lá estão a Checa e a Eslovaca.
Quanto a África, há uma área específica para os países de língua portuguesa, e vêm mais três zonas, a do Norte e do Sul, esta coincidente com o país africano mais meridional e os «outros países africanos» – e aqui alinham países como Benim, Mali, Zimbábue, entre outros!
Nas Américas, há as três óbvias, do Norte, Central e do Sul. Uma culinária do «médio oriente» e outra do «extremo oriente» são autonomizadas, e a Oceânia faz o ponto final na volta ao mundo.
Há pois muito para treinar e aplicar exotismos, agora tão em moda, muitas das vezes exercitados sem qualquer ideia do que podem dar as experiências. Estas diferenças poderão ter a dose de novidade esperada e correspondem a gostos já testados. Bom proveito.
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Maria Manuela Limpo Caetano, Maria João Caetano e Nuno Alves Caetano
O Livro de Pantagruel de Garfo e Faca à Volta do Mundo
A Esfera dos Livros, 26€