Natalia Timerman: “Meu pai havia morrido, e nada havia mais a se fazer”
1-O que representa, no contexto da sua obra, o livro “As Pequenas Chances”?
R-“As pequenas chances” é o livro em que (até o momento) mais esgarço o romance como forma, sem que isso tenha sido planejado, pois no momento da escrita o único compromisso que preciso ter é com a escrita mesma. A forma — o limite do romance — se impõe, então, numa combinação de controle e descontrole e faz caber, num mesmo livro de ficção e através da ficção, o autobiográfico, o ensaístico, a primeira e a terceira pessoa.
2-Qual a ideia que esteve na origem deste romance?
R-“As pequenas chances” surge de uma impossibilidade. Meu pai havia morrido, e nada havia mais a se fazer. Então escrevi, a partir dessa impotência, na lacuna instaurada pelo absurdo da perda que se manifestava das maneiras mais concretas e simples, por exemplo, da minha vontade de ligar para o médico do meu pai. Essa vontade abriu o espaço por onde entrou em mim a ideia do livro, num bloco inteiro.
3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R-Vou escrever o livro sobre a minha mãe, o livro da minha mãe, que aparece tão pouco em “As pequenas chances”. Um livro em que haverá outro tipo de luto, aquele diante de alguém que se vai de si aos poucos, pelo Alzheimer, e que será também um livro sobre minha relação com a literatura.
__________
Natalia Timerman
As pequenas chances
Tinta-da-China 15,90€
Natalia Timerman na “Novos Livros” | Entrevistas