Milton Hatoum | A Cidade Ilhada


1- O que representa, no contexto da sua obra, o livro «A Cidade Ilhada»?

R- Esse livro reflete momentos da minha vida em Manaus, Barcelona, Paris e California. Morei alguns anos na Europa e passei uma temporada nos Estados Unidos, por isso alguns desses contos são escritos por um narrador andarilho, que traduz um pouco essa errância. Mas há muita coisa que vem da minha infância em Manaus, que é um dos centros simbólicos dos meus romances. E há também dois contos (Encontro na Península e Dançarinos na última noite) que dialogam com a obra de Machado de Assis, sendo o primeiro uma paródia machadiana, de que participa um leitor português de Eça. O desafio da literatura é transformar essa experiência de vida e leitura em linguagem.

2- Qual a ideia que esteve na origem do livro?
R- Um dos contos (A natureza ri da cultura) foi escrito na década de 1980 e deu origem ao meu primeiro romance (Relato de um Certo Oriente). Outros contos foram escritos nos anos 90, e os mais recentes datam de 2008. Vários contos tinham sido publicados no Brasil e no exterior, inclusive em árabe . Reescrevi todos os relatos e percebi que havia uma afinidade temática entre eles. Algumas narrativas mantêm um grau de parentesco com os romances Dois irmãos e Cinzas do Norte. Alguns personagens migraram desses romamces para alguns contos, de modo que todas as narrativas fazem parte do mesmo universo ficcional.

3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R-Pretendo publicar uma seleção de crônicas que saíram na revista EntreLivros e incluir nessa coletânea as crônicas que venho publicando no Terra Magazine e no Caderno 2 (suplemento cultural do jornal O Estado de S. Paulo). Faz mais de um ano comecei a escrever um texto de ficção. Por enquanto é apenas um caos de palavras, mas espero dar forma e algum sentido a esse caos e transformá-lo numa narrativa legível.
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Miltom Hatoum
A Cidade Ilhada
Cotovia