Miguel Monjardino: “Estamos a despedir-nos de uma época histórica”
1) Qual a ideia que esteve na origem da reedição (actualizada) este seu ensaio “Por Onde Irá a História?”?
R-Sobretudo a consciência de que estamos a despedir-nos de uma época histórica. A dificuldade é que os contornos da próxima não são ainda claros. Nesta edição, regresso a duas perguntas: (1) Como chegámos até aqui? (2) Como devemos pensar sobre a política internacional em Portugal? O livro é uma contribuição para o debate nacional sobre as respostas a estas perguntas.
2-Estamos a viver tempos muito complexos a nível mundial e com especial influência nos destinos europeus. Do seu ponto de vista quais são as grandes linhas de desenvolvimento para os próximos anos na Europa?
R-A complexidade que vivemos resulta de um processo de desequilíbrio do sistema internacional. Por razões bastante diferentes, as lideranças dos EUA, China e Rússia concluíram que a ordem internacional prejudica dos seus valores e interesses. Esta é uma situação inédita para os países europeus. Nas últimas décadas, o seu modo de vida e a sua segurança dependeu sempre da protecção dos EUA. Das duas uma: ou temos capacidade para nos adaptarmos aos factos a nível interno e externo ou, então, caminharemos para a desintegração do Velho Continente. De uma forma ou da outra, as mudanças políticas nos países europeus serão muito significativas. O que temos à nossa frente é um choque estratégico.
3-E em Portugal: estamos alinhados com as principais tendências (e decisões) que predominam na União Europeia ou temos possibilidade de nos afirmarmos com iniciativas próprias que melhor possam salvaguardar os nossos interesses estratégicos?
R-Somos o país dos “Hobbits” da política internacional. Esquecemos que a História é, muitas vezes, trágica e violenta. O ponto essencial é este: a estratégia é muito mais importante para os fracos do que para os fortes. Se tivermos em conta a forma como avaliamos o tempo disponível, a demografia e a confiança no futuro, a avaliação do nosso destino colectivo não é animadora. Em Portugal, o nosso horizonte temporal é sempre muito curto. Somos um país adolescente. O que nos interessa é o presente. Temos de mudar a forma como avaliamos os acontecimentos internacionais e nos preparamos para defender os nossos interesses permanentes e valores. Se não o fizermos, viveremos perigosamente até ao final desta década.
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Miguel Monjardino
Por Onde Irá a História?
Clube do Autor 19,90€