Miguel Almeida | Ser Como Tu
1-O que é que representa, no contexto da sua obra, o livro “Ser Como Tu”?
R-Até hoje, publiquei quatro livros, a saber, Um Planeta Ameaçado – A Ciência Perante o Colapso da Biosfera (2006), A Cirurgia do Prazer – Contos Morais e Sexuais (Abril 2010), O Templo da Glória Literária – Versão Poética (Julho 2010) e Ser Como Tu (Abril 2011). Pelo meio, participei ainda no livro Já não se fazem Homens como antigamente (Novembro 2010), um projecto de conjunto, meu e de mais três autores. No prelo está já Chireto: Uma Semana de Histórias para Contar ao Deitar (Lua de Marfim, 2011), o meu primeiro livro para crianças. Neste contexto, o que é que representa Ser Como Tu? Representa mais uma etapa num percurso, isto é, representa mais um desafio, que em dado momento assumi e consegui concluir. Nesta perspectiva, pode-se dizer que Ser Como Tu representa um sucesso. Mas sucesso ou não, caberá aos leitores decidir. Se Ser como Tu conseguir encontrar os seus leitores … Se vier a encontrar outros “seres como tu”, carregados de inquietações e desassossegos … No entanto, e mau grado esta perspectiva cruel do sucesso literário, querer e ter conseguido publicar um livro de poesia, que isso tenha acontecido nos dias que correm, isso já é um grande sucesso. E de mais a mais, poder ver o meu nome num livro, um livro tão bonito – aproveito para agradecer e felicitar a Editora Esfera do Caos, que tem feito um trabalho excelente com as minhas obras – numa qualquer livraria aonde vou, poder ver esse meu livro lado a lado com as obras de um Luís de Camões, de um Fernando Pessoa, de um Mário Cesariny, de um Ferreira Gullar, de um Ezra Pound …, isso já é um enorme motivo de orgulho. E o sucesso? Não será isto, o sucesso? Não se fará também disto, o sucesso?
2-Qual a ideia que esteve na origem do livro?
R-A ideia central que esteve na origem de Ser Como Tu? … Ao contrário daquilo que aconteceu com outras obras minhas – O Templo da Glória Literária, por exemplo -, em que havia uma ideia de base para a construção do conjunto, Ser como Tu não teve, nem tem, essa ideia, nem sequer obedece a essa noção kantiana de sistema, em que as partes crescem à maneira de um corpo/organismo vivo, não por acrescentos exteriores, mas por desenvolvimento de um todo. “O todo é, portanto, um sistema organizado (articulado) e não um conjunto desorganizado (coacervatio); pode crescer internamente (per intussusceptionem), mas não externamente (per oppositionem) …”, diz-nos Immanuel Kant, na sua “Arquitectónica da Razão Pura”.
Ser Como Tu é um livro de poesia, que contém 100 poemas, para além de outros 100 poemas curtos, que alguns leitores gostam de chamar “pensamentos”, mas que eu costumo classificar como “instantâneos”. Agrupados em 10 capítulos, são poemas que retratam e falam de um “Eu” em luta constante consigo mesmo, isto é, trata-se de um “Eu” em luta permanente contra si próprio e as suas circunstâncias. Poder-se-ia falar, pois, de luta contra a própria subjectividade. O objectivo é enfrentá-la, mas também é exorcizá-la e vencê-la, portanto.
Numa frase célebre, o poeta russo Osip Mandelstam disse que “na poesia é sempre de guerra que se trata”. Num registo diferente, Carl Von Clausewitz diz-nos que “a paz é a continuação da guerra por outras formas”. E esse também se pode dizer que é o ponto de vista assumido em Ser Como Tu. Em guerra incessante consigo próprio, o “Eu” que está por detrás dos poemas deste livro mostra-nos que as piores guerras, as mais constantes e perigosas, não são as que travamos com os outros, mas as que travamos connosco próprios e com as nossas circunstâncias. Mas estas também são as guerras que nos trazem as conquistas mais importantes e decisivas. Transportando-nos por anseios e receios, por opções, feitas ou que ficam por fazer, os poemas de Ser Como Tu valem como outras tantas viagens de um “Eu”, numa busca constante de sentido para si próprio e para o Mundo
R-A ideia central que esteve na origem de Ser Como Tu? … Ao contrário daquilo que aconteceu com outras obras minhas – O Templo da Glória Literária, por exemplo -, em que havia uma ideia de base para a construção do conjunto, Ser como Tu não teve, nem tem, essa ideia, nem sequer obedece a essa noção kantiana de sistema, em que as partes crescem à maneira de um corpo/organismo vivo, não por acrescentos exteriores, mas por desenvolvimento de um todo. “O todo é, portanto, um sistema organizado (articulado) e não um conjunto desorganizado (coacervatio); pode crescer internamente (per intussusceptionem), mas não externamente (per oppositionem) …”, diz-nos Immanuel Kant, na sua “Arquitectónica da Razão Pura”.
Ser Como Tu é um livro de poesia, que contém 100 poemas, para além de outros 100 poemas curtos, que alguns leitores gostam de chamar “pensamentos”, mas que eu costumo classificar como “instantâneos”. Agrupados em 10 capítulos, são poemas que retratam e falam de um “Eu” em luta constante consigo mesmo, isto é, trata-se de um “Eu” em luta permanente contra si próprio e as suas circunstâncias. Poder-se-ia falar, pois, de luta contra a própria subjectividade. O objectivo é enfrentá-la, mas também é exorcizá-la e vencê-la, portanto.
Numa frase célebre, o poeta russo Osip Mandelstam disse que “na poesia é sempre de guerra que se trata”. Num registo diferente, Carl Von Clausewitz diz-nos que “a paz é a continuação da guerra por outras formas”. E esse também se pode dizer que é o ponto de vista assumido em Ser Como Tu. Em guerra incessante consigo próprio, o “Eu” que está por detrás dos poemas deste livro mostra-nos que as piores guerras, as mais constantes e perigosas, não são as que travamos com os outros, mas as que travamos connosco próprios e com as nossas circunstâncias. Mas estas também são as guerras que nos trazem as conquistas mais importantes e decisivas. Transportando-nos por anseios e receios, por opções, feitas ou que ficam por fazer, os poemas de Ser Como Tu valem como outras tantas viagens de um “Eu”, numa busca constante de sentido para si próprio e para o Mundo
3-Pensando no futuro: o que está a escrever neste momento?
R-Pensando no futuro … Tenho-me vindo a aperceber aos poucos que o dinamismo singular que tenho tido como escritor – sendo professor, marido e pai, consegui publicar quatro livros no último ano – se deve, um pouco, ao facto de estar sempre a pensar no próximo passo que vou dar, isto é, no futuro. Esta perspectiva do meu trabalho como autor tem vantagens e desvantagens. A vantagem óbvia é ter esse tal dinamismo de que falei, que me permitiu publicar quatro livros, em registos literários que vão da prosa de ficção à poesia, em apenas um ano. A grande desvantagem, também ela óbvia, é não chegar a ter tempo para poder saborear convenientemente cada passo que vou dando, isto é, cada livro novo que publico.
Mas … Falando do futuro … Em breve irá aparecer nas livrarias Chireto: Uma Semana de Histórias para Contar ao Deitar, o meu primeiro livro na exigente secção da literatura para crianças. A mais longo prazo, certamente para o próximo ano, está na minha intenção publicar um novo livro de poesia – Como a Água que Corre, é assim que lhe pretendo vir a chamar, se puder, e digo se puder por que, como se sabe, é já um título utilizado pela excelente escritora franco-canadiana Marguerite Yourcenar. Talvez também no próximo ano, queria ver se conseguia publicar o meu primeiro romance, escrito um pouco no registo literário do excelente livro Servidão Humana, do escritor norte-americano Somerset Maugham. A ver vamos. Costuma-se dizer que o futuro é a Deus que pertence. Neste caso, eu prefiro pensar que o futuro pertence ao tempo, à disponibilidade de ter tempo para poder escrever.
R-Pensando no futuro … Tenho-me vindo a aperceber aos poucos que o dinamismo singular que tenho tido como escritor – sendo professor, marido e pai, consegui publicar quatro livros no último ano – se deve, um pouco, ao facto de estar sempre a pensar no próximo passo que vou dar, isto é, no futuro. Esta perspectiva do meu trabalho como autor tem vantagens e desvantagens. A vantagem óbvia é ter esse tal dinamismo de que falei, que me permitiu publicar quatro livros, em registos literários que vão da prosa de ficção à poesia, em apenas um ano. A grande desvantagem, também ela óbvia, é não chegar a ter tempo para poder saborear convenientemente cada passo que vou dando, isto é, cada livro novo que publico.
Mas … Falando do futuro … Em breve irá aparecer nas livrarias Chireto: Uma Semana de Histórias para Contar ao Deitar, o meu primeiro livro na exigente secção da literatura para crianças. A mais longo prazo, certamente para o próximo ano, está na minha intenção publicar um novo livro de poesia – Como a Água que Corre, é assim que lhe pretendo vir a chamar, se puder, e digo se puder por que, como se sabe, é já um título utilizado pela excelente escritora franco-canadiana Marguerite Yourcenar. Talvez também no próximo ano, queria ver se conseguia publicar o meu primeiro romance, escrito um pouco no registo literário do excelente livro Servidão Humana, do escritor norte-americano Somerset Maugham. A ver vamos. Costuma-se dizer que o futuro é a Deus que pertence. Neste caso, eu prefiro pensar que o futuro pertence ao tempo, à disponibilidade de ter tempo para poder escrever.
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Miguel Almeida
Ser Como Tu
Esfera do Caos, 13,90€