Marx, cada vez mais actual
Sobre a obra de Marx nada mais há a acrescentar. Há quase dois séculos que ela é objecto de crítica, análise, estudo, reflexão – e fomenta as mais díspares opiniões, na maioria das vezes fruto de opções ideológicas e políticas e não de um verdadeiro conhecimento ou corrente de pensamento (a favor ou contra…).
Sobretudo neste caótico e conflituoso início de século, e depois da falência do sistema económico que tem dominado o mundo (apesar das múltiplas e constantes tentativas para fazê-lo renascer das cinzas à custa dos trabalhadores), a actualidade do pensamento político e económico de Marx é para muitos – mesmo entre os críticos – cada vez mais uma evidência.
Mas também porque nestes tempos confusos muitos dos que contestam o neoliberalismo se socorrem, para sustentar a sua crítica, de autores e de teorias que muitas vezes se contrariam, causando a mais profunda deriva que em nada contribui para a reflexão e a tentativa de encontrar soluções.
Ou seja, nada como (re)ler os clássicos, sem derivas ou reinterpretações das suas obras.
Vem isto a propósito de um pequeno livro editado pela Antígona: “Karl Marx – Crítica do Nacionalismo Económico”, com um excelente prefácio do historiador José Neves.
A obra é composta por dois pequenos textos. O primeiro, pouco conhecido, foi redigido em 1845 e é uma recensão crítica a “O Sistema Nacional da Economia Política”, da autoria de Friedrich List. Publicado pela primeira vez apenas na segunda metade do século XX, o manuscrito de Marx encontrava-se incompleto, faltando-lhe até a primeira página.
Já o segundo texto é um discurso que Marx proferiu em 9 de Janeiro de 1848 num encontro organizado pela Associação Democrática de Bruxelas, intitulado “Discurso sobre a questão do comércio livre”. Nele, o autor desmonta o argumento de que o comércio livre beneficiaria o partido dos trabalhadores porque aumentaria os salários e diminuiria o preço do pão.
Marx defende que com proteccionismo ou com comércio livre, a liberdade era entendida como “a liberdade de um explorar um outro, a liberdade de um país explorar um outro país, ou de uma classe explorar uma outra classe”.
Ou seja, Marx critica com igual força quer o proteccionismo quer o comércio livre, o que, como assinala José Neves no prefácio, é digno de atenção neste início do século XXI. Marx escapa à dicotomia tão em discussão actualmente, e nestes textos encontram-se elementos que vão constituir a teoria marxiana, nomeadamente o internacionalismo proletário.
O objectivo de Marx é a libertação imediata das necessidades humanas, que não poderiam continuar dependentes da lei da oferta e da procura, e por isso traça uma contundente crítica a List, que acusa de recusar o predomínio dos valores da troca mas “em nome da libertação imediata das forças produtivas e não da imediata libertação das necessidades humanas”, que ficaria agendada para uma etapa posterior.
Marx critica ainda em List o facto de, reconhecendo embora a alienação a nível das relações entre nações, ignorasse a alienação a nível das classes.
Por fim recorde-se, como nos chama a atenção o prefaciador, um apelo deixado por Marx: “Em geral, as reformas sociais nunca são conseguidas pela fraqueza dos fortes; elas devem e virão a ser conseguidas pela força dos fracos.”
Sobretudo neste caótico e conflituoso início de século, e depois da falência do sistema económico que tem dominado o mundo (apesar das múltiplas e constantes tentativas para fazê-lo renascer das cinzas à custa dos trabalhadores), a actualidade do pensamento político e económico de Marx é para muitos – mesmo entre os críticos – cada vez mais uma evidência.
Mas também porque nestes tempos confusos muitos dos que contestam o neoliberalismo se socorrem, para sustentar a sua crítica, de autores e de teorias que muitas vezes se contrariam, causando a mais profunda deriva que em nada contribui para a reflexão e a tentativa de encontrar soluções.
Ou seja, nada como (re)ler os clássicos, sem derivas ou reinterpretações das suas obras.
Vem isto a propósito de um pequeno livro editado pela Antígona: “Karl Marx – Crítica do Nacionalismo Económico”, com um excelente prefácio do historiador José Neves.
A obra é composta por dois pequenos textos. O primeiro, pouco conhecido, foi redigido em 1845 e é uma recensão crítica a “O Sistema Nacional da Economia Política”, da autoria de Friedrich List. Publicado pela primeira vez apenas na segunda metade do século XX, o manuscrito de Marx encontrava-se incompleto, faltando-lhe até a primeira página.
Já o segundo texto é um discurso que Marx proferiu em 9 de Janeiro de 1848 num encontro organizado pela Associação Democrática de Bruxelas, intitulado “Discurso sobre a questão do comércio livre”. Nele, o autor desmonta o argumento de que o comércio livre beneficiaria o partido dos trabalhadores porque aumentaria os salários e diminuiria o preço do pão.
Marx defende que com proteccionismo ou com comércio livre, a liberdade era entendida como “a liberdade de um explorar um outro, a liberdade de um país explorar um outro país, ou de uma classe explorar uma outra classe”.
Ou seja, Marx critica com igual força quer o proteccionismo quer o comércio livre, o que, como assinala José Neves no prefácio, é digno de atenção neste início do século XXI. Marx escapa à dicotomia tão em discussão actualmente, e nestes textos encontram-se elementos que vão constituir a teoria marxiana, nomeadamente o internacionalismo proletário.
O objectivo de Marx é a libertação imediata das necessidades humanas, que não poderiam continuar dependentes da lei da oferta e da procura, e por isso traça uma contundente crítica a List, que acusa de recusar o predomínio dos valores da troca mas “em nome da libertação imediata das forças produtivas e não da imediata libertação das necessidades humanas”, que ficaria agendada para uma etapa posterior.
Marx critica ainda em List o facto de, reconhecendo embora a alienação a nível das relações entre nações, ignorasse a alienação a nível das classes.
Por fim recorde-se, como nos chama a atenção o prefaciador, um apelo deixado por Marx: “Em geral, as reformas sociais nunca são conseguidas pela fraqueza dos fortes; elas devem e virão a ser conseguidas pela força dos fracos.”
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Karl Marx
Crítica do Nacionalismo Económico
Antígona, 14€