Mário Rufino: “Não estava a escrever este livro, mas esta senhora começou a conversar comigo e não se calava”
1-Cadente é o seu romance de estreia: como espera poder olhar apara ele daqui a 20 anos?
R-Gostava muito de olhar para este romance como um romance que fala de uma doença anacrónica, uma doença que faz parte do passado e que se tornou reversível.
2-Qual a ideia que esteve na origem deste seu livro?
R-Não estava a escrever este livro, mas esta senhora começou a conversar comigo e não se calava. Tentei não conversar muito com ela, concentrar-me no que estava a fazer, mas não consegui. Tive de interromper o que estava a escrever e dar-lhe a atenção que merecia. Ouvia-a com muita atenção, quis entendê-la e, pelo caminho, fui conhecendo pessoas extraordinárias que tentei salvar. Usei a ficção – e a ficção não é antagónica da realidade – para chegar a alguma verdade, ou verdades, sobre o que é sofrer da doença de Alzheimer, e toda a complexidade que a doença implica na relação com os outros. A investigação ajudou-me a perceber a doença, mas foi a observação e a audição que me fizeram chegar mais fundo.
As personagens são colocadas sobre grande pressão e sobrevivem como podem. Há muito sentimento de culpa, mas espero que passe também um sentimento de esperança e de bondade.
3-Pensando no futuro: o que está a escrever actualmente?
R- Vou continuar a tentar perceber esse bicho extraordinário que é o ser humano. Pelo caminho, tentar perceber-me melhor, também. Nós entendemo-nos em contraste com os outros, e os outros em contraste connosco. Vou continuar dentro da cabeça e tentar entender o que faz de nós tão complexos, antagónicos e capazes do horrível e do belo.
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Mário Rufino
Cadente
Quetzal 17,70€
Mário Rufino na “Novos Livros” | Entrevistas